quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Bert Hellinger, biografia (s)


Bert Hellinger deixou um legado transformador e revolucionário para a humanidade.

Sua filosofia, observações e compreensões sobre as "forças" e "necessidades" que movem os sistemas, bem como sobre o papel da consciencia "grupal,"  e como eles nos afetam, representam um salto evolutivo para a humanidade. 

Muito se escreve e fala sobre ele e seu trabalho. Alguns textos e "falas"  resultam de pesquisas e conhecimentos extensos e profundos. Não faltam porém aqueles realizados de forma superficial  com conclusões errôneas e até mesmo levianas.

No site da "Hellinger Sciencia" pode se encontrar uma de suas biografias (acesso através do link a seguir) 


Uma das biografias mais completas sobre a vida, o trabalho e a obra de Hellinger foi escrita por Brigitte Champetier des Ribes (1) e pode ser encontrada no site do Instituto de Constelações Familiares que ela dirige , 

https://recursos.insconsfa.com/hellinger_biografia.php

Baseada em uma extensa e profunda pesquisa esta biografia apresenta um rico, profundo e humano depoimento sobre a carreira e a vida deste do extraordinário ser humano, filósofo e terapeuta que foi Bert Hellinger.   

As constelações familiares, (método pelo qual Hellinger ficou universalmente conhecido), assim como as demais teorias das ciências humanas (p.ex. psicologia, ciências socias) têm como base a experimentação e a observação sistemáticas realizadas por Bert ao longo de sua vida e carreira. Tudo amplamente descrito, explicado e documentado em seus livros, artigos, conferencias, vídeos e workshops (2).

O registro sistemático e organizado de fenômenos ou "casos"  observados dentro de determinados parâmetros, regularidade, periodicidade, prevalência tem sido a forma de determinar sua base e comprovação "cientifica".

Com base nestes critérios e métodos, teorias como a da psicanalise de Freud ou a psicologia analítica de Carl Jung (só para citar algumas) tem sido validadas e vêm sendo amplamente utilizadas.

O método e a filosofia de Bert, além de se basear da observação sistemática, descrita, catalogada e documentada de centenas de casos estão apoiados no método e na observação fenomenológicos (3), 

A observação sistemática e analítica de casos são formas  para aquisição de conhecimento também validadas pela epistemologia, a filosofia do conhecimento (4).


(1) Psicóloga clinica,  uma das principais facilitadores e formadoras de constelações da atualidade. Seu extenso currículo pode ser encontrado no link a seguir  https://insconsfa.com/instituto_brigitte.php 
(2) Bert Hellinger escreveu 64 livros traduzidos em 25 idiomas
(3) Fenomenologia/ fenomenológico, inicia-se em 1900 com Edmundo Husserl e se dedica ao estudo das experiencias subjetivas e sua metodologia. Se trata de "observar" o fenômeno ou seja o que está ocorrendo na situação sem interpretar.
(4) epistemologia palavra de origem grega cujo significado é teoria do conhecimento. Os Epistemologistas estudam a natureza, a origem e o escopo do conhecimento. 


sábado, 10 de setembro de 2022

O medo, a raiva e minha criança interior

O medo é um grande aliado. Precisamos dele para reagir ao que nos ameaça. 

Se estamos "ligados" com o que esta ocorrendo à nossa volta (i.é. vivendo no presente), no momento em que ocorrer algo que possa  impactar na nossa integridade (física ou emocional), o medo nos fará reagir na medida e na intensidade adequadas. Vamos  fugir, nos defender ou paralisar. O que seja necessário e compatível na situação.

Se estamos "distraídos", pensando em algo que eventualmente possa vir a acontecer, ansiosos ou em algo que já ocorreu e nos desagradou não seremos capazes de reagir apropriadamente. 

Pode reconhecer quando e como isto ocorre com você ?

Talvez possa lembrar de algum acontecimento corriqueiro, algo que aconteceu ou se repita com frequência e diante do que  tenha se percebido  reagindo com um medo ou raiva intensa, desproporcional ao acontecimento.

Eric Berne, criador da analise transacional,  observa que quando estamos "conectados" no momento presente, nos encontramos no "estado do eu" que ele chamou de "EU" adulto. Neste "estado" agimos e atuamos de forma coerente, compatível com o que esteja ocorrendo e na intensidade adequada

A pergunta é: onde  "EU" estou nos momentos de "distração"? 

Segundo Berne, quando estamos dominados por uma emoção intensa, incontrolável, desproporcional e duradoura, revivemos uma emoção da infância. Uma emoção  "encapsulada" que nos remete a um trauma ou conflito que ocorreu quando éramos pequenos. Estamos no estado do "EU criança ou infantil". 

Aquele momento desproporcional de medo ou raiva é esta parte nossa, bem pequena, assustada, reagindo. Nossa parte criança, fazendo birra, tendo um chilique, não querendo que ninguém tenha razão a não ser ela...

As emoções, quando desproporcionais e inadequadas, normalmente ocorrem quando estamos distraídos nesta criança ou vinculados, inconscientemente, a um trauma, conflito ou evento do passado familiar, cuja existência ignoramos completamente.  

Estamos repetindo emoções e reações de quando éramos pequenos ou, como observou Bert Hellinger, revivendo, instintiva e inconscientemente uma situação muito antiga, baseado em acontecimentos que ocorreram no passado familiar.

Por exemplo, fico sabendo que um conhecido de quem não gosto vai dar uma festa e recebo um convite. Se estou na minha parte mais crescida (presente e adulta) decido se quero ou não comparecer, agradeço e não penso mais no assunto. Minha mente permanece calma. Meu coração tranquilo. 

Se estou no estado do "EU" criança (que me remete a emoções da infância) fico me debatendo entre ir ou não sem conseguir decidir. Minha mente fica agitada com pensamentos e argumentos repetitivos e conflitantes sobre o assunto. 

Em nossa atividade profissional quando atuamos  a partir deste "eu criança" normalmente nos comportamos de forma desapropriada. Por exemplo Sou comentarista esportivo e torço para um time que é finalista do campeonato nacional. Vou cobrir o jogo que vai ser na cidade do meu time. Se estou em conexão com o presente a realidade como é, no meu "EU" crescido, adulto, vou interiormente desejar que o meu time ganhe mas com a alma leve, a mente tranquila. Reconheço a possibilidade que ele possa pode perder mas com o coração em calma e a mente apaziguada. 

Se estou no "EU" criança, a simples ideia de o time oponente poder vir a ganhar vai me causar reações e emoções violentas, desproporcionais, incontroláveis. 

Posso por exemplo  acusar o time adversário de faltas inexistentes, desmerecer, desqualificar, ridicularizar seu técnico e seus jogadores. 

Isso acontece com mais frequência do que possamos imaginar. 

Procure notar quando olhar, assistir ou ler algo no qual perceba que o protagonista ou autor esta dominado por emoção desproporcional e intensa, uma raiva que distorce suas feições, sua fala, sua escrita, que usa termos pesados, agressivos, desqualificatórios, humilhantes, saiba que é a criança amedrontada que mora nele se expressando.  

Ele não consegue agir de outra maneira. É inconsciente e instintivo.







quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Alinhar-se com o essencial

Um dos nossos grandes desafios é poder reconhecer o que é essencial para nós. Muitas vezes nos perdemos em duvidas, em labirintos mentais (pensamentos e argumentos repetitivos e intermináveis) ou nos paralisamos presos a emoções intensas e ou  conflitantes. 

Em algumas áreas da nossa vida acontece com mais frequência, em outras com menos. Vai depender de nossa estrutura interna, de como pensamos. Do quanto podemos "suportar" ou sustentar a verdade do que é. De estarmos mais ou menos enredados em traumas do sistema familiar.

Quando estamos reagindo a partir de uma parte menos crescida, por exemplo de algo que nos remete a uma situação traumática da infância, é possível que sintamos muito medo, raiva, insegurança ou outra emoção intensa. Nestes casos reagiremos de forma incompatível com a situação. Teremos uma reação ou emoções desproporcionais ou nos paralisamos.

Estas reações  desproporcionais são "espelhos" de situações que vivemos na infância com as quais não conseguimos lidar porque não tínhamos a estrutura emocional adequada. Éramos pequenos demais.  

Poder reconhecer a "verdade" de cada momento ou situação é um passo importante para  discernir o que é essencial para nós.

Só será possível quando, antes, pudermos estar de  acordo com o que estiver ocorrendo. Sem negar ou desejar que seja diferente do que é.  Da mesma forma que sabemos e reconhecemos a primavera vem antes do verão.

Isto vale para todas as nossas áreas e situações: pessoais, profissionais, relacionamento de casal, mudanças de vida bem como para decidir sobre questões que vão afetar nosso entorno, o lugar onde vivemos ou nossa comunidade.

Pode reconhecer alguma vez na qual, sem se dar conta, permaneceu fixo em algo que não era essencial e se perdeu em detalhes ou aspectos irrelevantes para seu objetivo? 

Ou que, em algumas situações, se recusou ou recusa a ver ou reconhecer o que está de fato ocorrendo? Rejeitando, negando, justificando-se, argumentando, buscando explicações, paralisando-se, ou agredindo, entrando em desespero, entregando-se a uma emoção sem controle?

Podemos identificar o que é essencial para nós? 

Se, por exemplo, estamos em uma fase da vida na qual necessitamos escolher uma carreira que aspectos devemos considerar? O que é essencial?

A carreira que vai ser mais lucrativa? A mais glamurosa? A que vai de encontro com as expectativas dos meus pais? Ou o a que nos deixa felizes e alegra nossa alma?  

Se escolho uma que acredito que será mais lucrativa e/ou glamurosa, mas que vai exigir que eu seja muito sociável, vá a muitas festas, trabalhe 18 horas por dia, esteja sempre nos holofotes e sou uma pessoa não muito sociável, que curte ficar sozinha, esta carreira vai contra meus anseios mais profundos e não serei nem feliz nem bem sucedido.

Se escolho um/a parceiro/a afetivo com base em seu aspecto físico sem considerar os objetivos em comum que possamos ter como casal (desejamos ou não ter filhos? O que esperamos de cada um? Aceitamos os valores, cultura, forma de ser, religião de nosso/a parceiro/a? Gostamos das mesmas coisas? (Viajar ou não, morar em casa ou não, em uma cidade ou não?), provavelmente me frustrarei ou vou acabar ressentido. 

O que é realmente essencial para mim em uma relação? Consigo definir ou me perco em divagações, em aspectos que não são relevantes?

O mesmo vale para questões coletivas. Se, por exemplo, precisamos escolher o sindico para o condomínio onde residimos ou o prefeito da nossa cidade o que é essencial considerar?

Se ele é bonito? Como ele se expressa e fala? Se gosta de música? Se aprecio a forma como ele se veste? Se gosto dele? Acho ele simpático? Se ele é cristão, evangélico ou espírita? Se gosta praia ou campo? Se me perco nestas irrelevâncias não vou ver o que é essencial: se a pessoa é ou não capaz e competente para administrar o condomínio ou a cidade.

Se escolho com base em meu sentimento pessoal de simpatia ou antipatia, se estou movida pela emoção cega, ao invés de analisar o seu trabalho efetivo e sua capacidade de colocar meu condomínio ou minha cidade em ordem obviamente vou estar prestando um grande desserviço para mim e para meus vizinhos ou moradores de minha cidade. E  acabar escolhendo alguém que criará para todos muitos problemas no futuro. 

Nenhuma situação ou pessoa é perfeita. Nós também não. Quero alcançar algo ideal ou inatingível? Consigo focar no que é essencial? Consigo ver o que é bom para mim e para todos ou estou totalmente preso a preconceitos?

O que é essencial em cada situação e contexto?

Conseguimos decidir por algo que não seja ideal mas sim possível? Que seja mais alinhado com a realidade do momento? Podemos ver o que é bom para mim e também para todos? Podemos reconhecer o que viemos viver? O que nossa alma anseia?

O essencial só é "essencial" se o que almejamos for bom para mim e também para todos. 

Estamos convencidos de que somos separados, desconectados uns dos outros e do que nos circunda. Somente em décadas mais recentes as novas descobertas das ciências físicas, biológicas e humanas voltaram a recolocar a noção de que interagimos em uníssono com tudo que nos rodeia, que de fato estamos conectados, vinculados com tudo e todos. 

Normalmente estamos presos a traumas e conflitos do passado, a fidelidades com o sistema familiar. A mandatos que recebemos ou promessas e roteiros de vida que fizemos na infância. 

Ou não conseguimos encarar a realidade como é porque nossa capacidade de suportar e ver a verdade está ofuscada por crenças, fantasias, expectativas e dominada por preconceitos e pela necessidade de pertencer, presa ao certo e ao errado dos meus grupos. 

É importante identificar o que nos impede ou afasta do que é essencial para nos para, eventualmente, poder se for o caso buscar a ajuda adequada.


segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Um novo modo de constelar

 Texto de Bert Hellinger - Frankfurt, Outubro 2010

 

"Agora eu estou de pé e sou outro Bert Hellinger. O que vocês conheciam de anos anteriores eu não conheço mais. Agora eu me direciono para outro campo e vou explicar o que isso significa. 

Antes, muitas pessoas vinham a esse tipo de curso porque queriam resolver algo para si mesmas e suas expectativas estavam focadas em mim, em como eu poderia ajudá-los. E essas expectativas me guiavam e me deixaram doente.

Por que? Porque eu me intrometia em seu destino dele.  E eu experimentei comigo mesmo o quão perigosa essa ajuda pode ser. Essas forças maiores, que atuam agindo através de mim e no mesmo grau atuam em cada um de vocês, não suportam quando tomamos o seu lugar. E sem embargo nos parecia que estávamos fazendo algo bom.  Desde o início das Constelações Familiares podíamos ver que os representantes se sentem como a pessoa que estão representando. É incrível que algo assim possa acontecer. 

E em seguida nós continuamos e o chamamos de "método terapêutico". Pode haver algo mais louco? Aqui, desde o início, outra força se manifestava totalmente, outra força no que queria ajudar e também nos representantes. Essa força os tomava ao serviço. E em seguida nós empurrávamos aos representantes, para lá e para cá como se isso fosse ajudar em algo. Como se tivéssemos permissão para nos intrometer. 

E os que guiavam uma constelação, eu também me incluo aqui, diziam: "Diga-me, qual é o seu problema? O que trazes? E alguém respondia e nós levamos a sério e dizíamos: "Venha, o constelamos." Mas essas forças queriam o bem para nós. Essas constelações familiares acabaram.

Torna-se cada vez mais perigoso quando ainda tentamos fazê-lo desta maneira e vemos também o resultado de constelações familiares deste tipo. Digo isso abertamente e não vou proteger ninguém. Essas constelações familiares acabaram. 

O que agora toma seu lugar? Podem ainda me ouvir? É interessante? Então, simplesmente considero seriamente que cada representante é guiado por algo diferente. E que eu sou guiado por algo totalmente diferente e que eu só posso avançar na medida em que eu experimente o mesmo que aquele que é guiado. E quando isso termina, eu também termino. Acabo. 

Este novo modo de Constelações Familiares eu chamo de "seguir o espírito". Nunca pensamos assim. Não refletimos que os representantes não são eles mesmos, mas que outra força os toma e os dirige. E, quando um representante quer escapar disso porque ele tem algum objetivo dele, tudo desmorona. O representante que se comporta como se tivesse que ajudar tem que ser mudado para outro imediatamente.

Porque se não, nada pode funcionar. E o mesmo se aplica a mim.  Quando trabalho sou um intermediário e algo diferente me toma ao serviço e me disciplina. Então tem lugar algo totalmente diferente do que uma pessoa pode imaginar ou desejar. Essa pessoa é tomada ao serviço e disciplinada.  

Pergunta: O que era perigoso nas constelações familiares anteriores? 

Hellinger: A Usurpação." 

Tradução do Espanhol Marcia Paciornik

Fonte: https://insconsfa.com/

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Perder a humanidade

 

Cada membro da espécie humana, independentemente de sua individualidade que é sempre única, tem em algo em comum que une a todos. Podemos ser de famílias, países, culturas, conhecimentos, condição financeira diferentes todos porém igualmente humanos, ligados por um elo comum que é nossa humanidade.

Entretanto não é incomum olharmos para alguém próximo (um amigo, um familiar, um colega de escola ou trabalho) e principalmente os mais distantes (um politico, um comentarista de TV, um policial na rua) e internamente colocar um rótulo (idiota, corrupto, violento...). 

Normalmente trata-se de algo desta pessoa que instintivamente repelimos por ser contrário aos valores e regras da nossa cultura ou de algum dos nossos grupos de pertencimento. 

Quando olhamos para alguém (uma situação, um grupo) e só conseguimos ver uma característica ou um aspecto dela que nos desagrada (agressivo, mentiroso, ignorante, maldoso, desonesto) estamos excluindo as facetas e atributos bons e até mesmo admiráveis que esta pessoa ou grupo com certeza também possuem. 

Sabemos, por nós mesmos e nossas próprias imperfeições, que todos temos diversas facetas, virtudes e defeitos. Somos, afinal, humanos. O que nos une, além da identidade como espécie, é também nossa imperfeição. O reconhecimento de que cada um de nós como é tem uma contribuição a dar e não sabemos qual é. 

As pessoas não se reduzem ao aspecto delas do qual não gostamos. Mesmo quando não compreendemos sua contribuição, ou discordemos de como fala, se comporta ou age. Somos pequenos demais para compreender o papel de cada um, o que cada um veio fazer.

Quando não consigo reconhecer que, como eu, a pessoa tem aspectos bons e ruins ela perde a humanidade e se transforma em um rótulo. E eu também me reduzo a um rótulo (excluidor, rotulador, intolerante, julgador). Reduzo a pessoa a um aspecto dela e me reduzo a alguém incapaz de ver além deste aspecto. 

E notem, fazemos isto o tempo todo, sem sequer nos dar conta. É instintivo. É uma necessidade ditada pela nossa necessidade de pertencer, (1) de fazer parte de um mesmo grupo, de uma cultura, de uma família (com as normas, valores e regras que acreditamos serem os mais certos, os únicos verdadeiros).

Não nos damos conta de que, quando rotulamos alguém (corrupto, violento, ladra, abusador, ignorante, judeu, fanático), estamos sendo violentos! (2) Mesmo quando nos julgamos defensores da paz, da não violência. E o pior é que nos sentimos "bons," "corretos," "certos," plenamente justificados em nosso comportamento. 

E é normal que seja assim. Estamos defendendo nosso direito de continuar "pertencendo" ao nosso grupo familiar, politico ou qualquer outro que seja que desejamos fazer parte, a "cultura" que consideramos boa e correta.

Não nos damos conta que esta forma de olhar para o outro cria mal estar interno em nós mesmos, no outro e ao nosso redor. 

Se prestarmos a atenção vamos perceber que algo muda em nosso corpo quando, ao percorremos as redes sociais ou assistindo um noticiário, nos deparamos com algo que, segundo nossos valores, é incorreto, agressivo, injusto, desrespeitoso, desonesto ou falso. Nosso corpo vai tensionar, enrijecer, o coração se tornar mais pesado. A mandíbula ou as mãos podem se contrair. O coração ficar mais "pesado." É sutil, mas vai ocorrer.

Isto ocorre porque somos seres vibrantes e ressonantes e a forma como vemos o outro altera a nossa vibração interna e repercute nos que estão à nossa volta. E assim, sem mesmo desejar, estamos contribuindo para o crescimento do mal estar coletivo, para o aumento da agressividade e da violência no planeta.

Quando só vemos algo ruim de alguém, de uma situação, de um grupo "estamos sendo violentos." sem nos dar conta e contribuindo para aumentar a violência ao nosso redor. 

O importante é saber que não precisa mais ser assim. Com o conhecimento que temos hoje sobre a necessidade de pertencer podemos escolher conscientemente começar a atuar de outra maneira. 

Reconhecer que todos têm o mesmo direito de pertencer e cada um de nós tem um propósito, está a serviço de algo na evolução do planeta e da humanidade. Mesmo que não saibamos qual, mesmo que nos seja difícil aceitar ou até mesmo que julguemos nocivo. 

Vamos nos sentir culpados mas vai valer a pena. 

Hellinger nos ensina que não há crescimento sem culpa! A escolha é nossa: continuar alimentando os campos de consciencia da exclusão, da intolerância, da violência ou crescer e resgatar nossa humanidade.

Marcia Paciornik

Constelações Familiares e Quânticas (individual, on line) e Movimentos Essenciais (encontros inviduais, on line, para aprendizado e prática).

(1) Bert Hellinger trouxe à luz, a partir de suas observações, que diversas forças atuam sobre nós e que estamos sob a influência das necessidades de duas "consciências: a "grupal," que atua para garantir o crescimento, sobrevivência e coesão dos sistemas, se "impondo" sobre os seus membros, e a "pessoal," que tem como uma de suas necessidade o pertencimento. Para esta consciencia só nos sentimos com direito a pertencer quando seguimos fielmente as regras, normas e valores da nossa família e da nossa cultura. 




sexta-feira, 2 de outubro de 2020

O instinto de pertencer: efeitos e consequências

A necessidade de pertencer é instintiva e condiciona nosso comportamento (1).  

Para garantir o pertencimento reagimos automática e instintivamente a tudo que possa ir contra os condicionamentos impressos pelas normas, regras e valores dos grupos (família, amigos, politica, cultura, religião ...)  que desejamos fazer parte.

Para a parte mais primitiva do nosso cérebro (a reptiliana), colocar em risco nosso pertencimento é o mesmo que colocar em risco nossa vida. Nos períodos iniciais da humanidade se alguém não pertencia a um grupo corria o risco de ser devorado por animais ou tomado como escravo por outro grupo.

Esta necessidade, ou instinto, é condicionada pelo que é considerado certo ou errado, bom ou mau na nossa cultura, família ou grupos que valorizamos e queremos fazer parte (pertencer). 

Nos sentimos "bons", "quentinhos," protegidos e confortáveis quando agimos de acordo estas normas, valores e regras e maus, desconfortáveis e culpados, quando as contrariamos. Para Bert Hellinger, a culpa é necessária para crescer. Segundo ele "Apenas as crianças são inocentes".

Mas vejam: sempre reagiremos instintiva e cegamente, com frequência sem sequer nos dar conta,  ao que contraria o certo e o errado definido pelos nossos grupos. Sempre. É instintivo. O que sim podemos é nos tornar mais conscientes de quando agimos assim e talvez nos responsabilizar por isto e pelo efeito disso em nós, nos outros e no coletivo. Assumindo quando o fazemos. Ah! Estou agindo assim de novo!

Fazemos isto de várias maneiras.

Os preconceitos que sentimos, e muitas vezes expressamos instintivamente em relação "àqueles" que não pensam, falam, atuam, se alimentam ou se vestem como nós, são uma das formas mais comuns. 

Tudo o que instintivamente excluímos, rejeitamos, desqualificamos, olhamos de forma ruim, julgamos, criticamos esta inconscientemente expressando a necessidade mais básica da nossa personalidade: a de pertencer.

Tamanha é a força e o poder desta necessidade que nos sentimos bons, justificados e corretos fazendo isto.  Até mesmos quando  desejamos a morte ou a aniquilação dos que não pensam ou atuam como nós, dos que julgamos "diferentes".

Esta é a forma na qual nossa consciência pessoal fica tranquila de que estamos sendo leais ao grupo e de que temos o "direito" de continuar a pertencer. 

Este comportamento também pode ser percebido  na convivência pessoal onde o " não gosto" pode variar de um olhar condescendente e/ou penalizado de quem que se julga mais conhecedor, mais bem informado, mais inteligente e indo desde o simples afastamento/ distanciamento e podendo escalar até a rejeição explicita, o desprezo, a exclusão, o ódio e o mesmo o desejo de aniquilação, destruição do outro.

O que normalmente não percebemos é que estas atitudes nos afetam profundamente. Atuam sem que percebamos em nossa atmosfera interna e no nosso corpo e afetam, por ressonância, tudo à nossa volta. 

Quando olhamos para alguém de forma ruim nosso corpo, nosso coração, nosso rosto, nossa respiração se contraem, causando profundo desconforto. 

Talvez possa experimentar isto se agora fechar os olhos e, colocando a atenção a atenção no corpo, visualizar diante de você uma pessoa que você não gosta (por qualquer questão: pela forma como se veste, fala, por sua religião, comportamento, posicionamento político, o que seja)  cultural, politica, religiosa, comportamental). Percebe como seu corpo reage? 

Hoje é mal visto ter preconceitos consequentemente muitas vezes vamos ocultar estes julgamentos e criticas para sermos "politicamente corretos"Para Claudia Boatti  quando isto ocorre  “enviamos para o inconsciente o que mora em nós.  Mas continuamos, instintivamente, a julgar. Secretamente ainda achamos que este ou aquele grupo é o certo e é melhor do que aquele.  Está no nosso DNA".

Nossa reação vai ser proporcional ao risco de perder o pertencimento e o medo que este risco vai gerar. À medida que o risco e o medo de perder o pertencimento se elevam aumenta nossa reação e colocamos instintivamente mais barreiras entre nós e os "diferentes". 

Muitas vezes reduzimos o outro ou seu grupo a um rótulo (bandidos, assassinos, corruptos, anarquistas) ou usando termos pejorativos ou desqualificativos para denomina-los. 

O medo é irracional, ilógico e leva a reações imprevisíveis. Por esta razão as pessoas e grupos são cegos e surdos aos argumentos dos diferentes, daqueles que, por  pensarem ou agirem de forma diferente, "não pertencem".

Hannah Arendt na sua obra a Banalização do Mal escreve: “os membros fanatizados são intangíveis pela experiência e pelo argumento; a identificação com o movimento e o conformismo total parecem ter destruído a própria capacidade de sentir, mesmo que seja algo tão extremo como a tortura ou o medo da morte".

A crescente agressividade, violência e polarização entre pessoas e grupos que se observa atualmente em diversos ambientes (político, cultural, comportamental só para citar alguns) tem origem na facilidade e rapidez que as redes sociais oferecem para difundir ideias, conceitos, preconceitos os mais diversos.

Atualmente, grupos que pensam de forma diferente ou antagônica encontram nas redes sociais um campo fértil para gerar argumentos impactantes que mais se coadunam com seus valores. Criando, alimentando e difundindo preconceitos e o medo e violência que eles geram. 

A Alemanha da era hitlerista mostrou ao mundo o quanto é fácil converter pessoas às ideias mais desumanas fazendo-as se sentir "boas" mesmo quando desejando a morte de outras ou conduzindo outras à morte. 

Bert Hellinger escreve que apenas a reconciliação é capaz de promover cura e evitar a repetição do que a humanidade vem repetindo há milênios com as exclusões: as guerras e os conflitos.  

Sabendo agora como a necessidade de pertencer atua  podemos nos tornar mais conscientes e responsáveis pelos efeitos e consequências das nossas ações quando agimos instintivamente para defender nosso pertencimento. 

Podemos talvez começar a nos tornar mais responsáveis pelo efeito que isto provoca em nós, nos outros e em toda a sociedade. 

Um desafio imenso que exige muita disciplina interior. 

Nas palavras de Brigitte Champetier de Ribes "amar aos bons é fácil" o desafio é amar aos difíceis, os considerados maus.

Marcia Assá Paciornik





quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O que nos fortalece?

O que limita, bloqueia e impede de fluir na vida? Como superar as limitações?

Algumas pessoas, após anos de trabalhos terapêuticos, constelações e psicoterapias ainda sentem-se bloqueadas, desmotivadas e sem vitalidade.

Sem perceber, nós mesmos, somos responsáveis pelas atitudes, comportamentos, dificuldades, bloqueios e emoções que nos limitam.

Para Brigitte Champetier de Ribes o que mais fortalece e permite fluir na vida é estar no presente “continuamente nos despedindo do que já terminou”. No presente estamos totalmente preparados para lidar com qualquer situação da maneira mais adaptada à necessidade ou circunstância.  

A dificuldade é que raramente estamos no presente. E mais, não nos damos conta disso. Na maioria do tempo estamos com os pensamentos voltados para algo que já aconteceu ou que vai acontecer e não conseguimos atuar de forma adequada e coerente com a situação presente que estamos vivemos.

Segundo Eric Bernie, criador da analise transacional, flutuamos durante o dia (inconscientemente) por três diferentes estados do EU. Apenas um destes estados o Eu adulto esta no presente. Os dois outros (criança e critico moralista) estão voltados para o passado e quando estamos neles reagimos de maneira totalmente desadaptada à situação que enfrentamos no presente. Só ganhamos força quando nos colocamos no presente na nossa atitude mais adulta, crescida e responsável.

Para Claudia Boatti criadora dos Movimentos Essenciais, outra atitude muito comum e frequente que enfraquece e paralisa é a de vítima. E todos nós vivemos esta atitude muitas vezes durante o dia, diante das mais diversas situações, sem perceber: quando nos queixamos de algo ou alguém, quando reclamamos, quando recriminamos alguém por algo que nos aconteceu ou está acontecendo, ou quando nos recriminamos. Sim podemos nos sentir vítimas de nós mesmos. O resultado é que terminamos o dia cansados e nos sentindo impotentes, incapazes, desmotivados e fracos.

Podemos ser vítimas de um acontecimento (por exemplo de um assalto) e não ficar na atitude de vítima, quando nos fazemos responsáveis pelo que é necessário: fazer um BO, cancelar cheques, cartões e documentos...

A atitude de vítima é muito confortável e também bem vista. Muitos olham as vítimas com simpatia. Mas ela nos enfraquece imensamente. Ganhamos força quando reconhecemos no cotidiano as situações nas quais nos vitimizamos e podemos ir para a atitude de responsável.

Outra atitude ou sentimento que faz perder força é a culpa. O adulto não sente culpa. Ele retoma sua força assumindo a responsabilidade pelos danos que causou e se comprometendo a reparar.

Nos enfraquecemos também quando negamos e/ou rejeitamos o que estamos vivendo, ou o que está acontecendo conosco ou no nosso entorno. Quando negamos algo ou uma situação (um sintoma, uma tristeza, uma emoção) levamos toda nossa energia para o movimento de negação, para impedir, para rejeitar e ficamos sem forças e energia para perceber de que outra maneira poderíamos lidar com a ela. Nos fechamos para outras possibilidades.

As fases negativas que vivemos (crises, conflitos, doenças, acidentes) são o motor que vai nos impulsionar e levar para maior crescimento. São nossos desafios. E saibam que a vida vai nos trazer constantemente, como espelhos, as situações que precisamos para crescer. 

Também perdemos força quando vivemos muito tempo uma emoção limitante (tristeza, sofrimento, raiva, medo). As emoções necessárias para fazer frente a um evento ou acontecimento duram o tempo suficiente para reagirmos da forma mais adaptada ao que está acontecendo no entorno e à situação. O medo, por exemplo, dura apenas o tempo necessário para produzir a química corporal que impulsiona a ação. Se dura mais e permanece conosco se trata de um medo que vivemos no passado e não integramos. Ficou bloqueado e vai se repetir ou permanecer como emoção de fundo.

Atualmente a humanidade e o planeta estão iniciando uma nova etapa na qual podemos nos reconhecer não apenas como seres pensantes, mas também como seres vibrantes. Vibramos em diversas níveis e frequências dependendo de como reagimos aos acontecimentos, de que emoções e pensamentos alimentamos e da velocidade na qual nos resgatamos quando saímos do nosso centro (1).  

Nas frequências mais baixas levamos mais tempo para voltar ao centro quando algo nos desestabiliza.   Ou seja, perdemos a força. Estamos fechados para novas possibilidades repetindo o que já está no nosso repertório. Não conseguimos ser criativos.

Olhar para os outros de forma “ruim” (desqualificativa, critica, julgadora) também nos deixa densos e sem força. A necessidade de pertencer está impressa na parte mais primitiva do nosso cérebro como equivalente a sobreviver. Ela instintivamente nos faz julgar todos os que pensam, se comportam atuam ou se vestem de forma diferente da nossa  de forma. Isto vai acontecer sempre. Quando nos tornamos mais  conscientes de que fazemos isto para garantir e preservar nosso pertencimento nos fortalecemos.

A forma como olhamos nos afeta e afeta os demais. Na sua capacitação de Movimentos Essenciais Claudia Boatti  mostra o efeito do nosso olhar: "nós somos seres vibrantes e a forma ou frequência na qual vibramos afeta a nós mesmos e ao nosso entorno”. A violência e a agressividade expressas ou mesmo ocultas nos afetam, alteram nossos sentimentos, mudam nossa frequência interna. Mesmo sem perceber nos sentimos mal internamente. Nos fortalecemos quando podemos nos tornar mais conscientes e responsáveis pela forma como olhamos e interagimos com os demais.  

Também perdemos a força e não conseguimos fluir com a vida quando estamos ocupando um lugar que não é o nosso nos sistemas (grupos) aos quais pertencemos. Quando não entendemos porque estamos agindo de uma maneira inadequada ou incompatível com a situação que estamos vivendo é um indicativo de que estamos imitando (inconscientemente) alguém do nosso sistema (normalmente um ancestral) que foi "excluído" (desprezado, desqualificado, olhado de maneira ruim). Não conseguimos fluir com a vida. Temos dificuldades no trabalho, na empresa, com os filhos, com parceiros... Para Bert Hellinger, “Ordenados somos mais leves”. Ganhamos força. 

Ou seja para fluir na vida precisamos estar em perfeita harmonia com as forças invisíveis que dirigem os sistemas que foram trazidas à luz por Bert Hellinger (o assentimento, a ordem/ hierarquia , o pertencimento e o equilíbrio entre o dar e o receber)


 Marcia Paciornik

Referências: Bert Hellinger, criador das Constelações Familiares; Eric Bernie, criador da Analise Transacional; Brigitte Champetier de Ribes, fundadora e diretora do Instituto de Constelaciones Familiares; Claudia Boatti (criadora dos Movimentos Essenciais)

(1) - Claudia Boatti, criadora dos Movimentos Essenciais - https://www.movimentosessenciais.com.br/

sexta-feira, 6 de março de 2020

O erro é divino.


Para Bert Hellinger o erro é divino e tudo que é perfeito é imóvel e estagnado. O progresso, a mudança, o novo, o criativo, só podem surgir a partir de uma crise, de um erro, de algo que não está certo, de um conflito, de uma polaridade. Sem o erro a humanidade não pode avançar, em suas palavras:
"Tudo o que permitiu que a humanidade avançasse, para o mundo, foi possível porque havia algo incompleto, imperfeito. 
A criatividade só pode existir quando algo incompleto é reconhecido e um movimento é iniciado para preenchê-la. Quando preenchido, o movimento e a criatividade param. O que é perfeito é imóvel. Sem incompletude não há progresso.
Se imaginarmos que a força por trás da vida é perfeita, então nada mais pode mudar. Então o Divinamente Criativo é incompleto e pode se equivocar. Suas condições para existir são resistências. Tudo o que é criativo tem como raiz um conflito, um erro, é a condição necessária para que a força criativa possa se desenvolver. O conflito é divino. O erro é divino. O movimento criador é incompleto e se coloca em movimento quando se reconhece que algo de antes está incompleto". (1)


Brigitte Champetier des Ribes também nos fala sobre a importância de fluir com o que a vida nos trás, vivendo os conflitos, as crises, erros para podermos vivenciar mudanças e novas compreensões em vários textos. Mais recentemente no texto que escreveu para o seu ciclo de web videos  "viver na incerteza."
 "...Entregar-nos à incerteza é uma característica do adulto. É aceitar o presente como se apresenta, sabendo que a previsão e o controle não são possíveis, sobretudo, são inúteis. São freios, são resistências à criatividade da vida que nos guia a todos em direção à evolução do destino coletivo. A incerteza nos permite entregar-nos ao serviço da vida, assumindo a nossa responsabilidade, sem controle dos demais. Só podemos intuir o próximo passo, se estamos em concordância com o presente. O que sim sabemos é que tudo está como tem que ser, em movimento a serviço da evolução..."  
"As polaridades e salto evolutivo andam lado a lado. O que tem um oposto, um complemento, uma antítese, uma consequência ou uma causa, precisa ser completado com esse elemento, para alcançar a plenitude de sua realidade, para culminar o fenômeno do qual faz parte. Quando um fenômeno é vivido em sua totalidade, sua energia é tal que cria um salto evolutivo na vida dos envolvidos e daqueles que ressoam com eles."
"... A nível energético, sabemos que a energia não é uma corrente contínua, mas sim que flui de quantum em quantum. Um quantum de energia é criado cada vez que uma fase de um sinal é completada por uma fase de sinal oposto. Enquanto alguém vive apenas uma fase, seja positiva ou negativa, está sem energia. A energia entra em sua vida quando decide abraçar a fase oposta. A energia se manifesta então na forma de "salto quântico": mudança qualitativa e quantitativa em sua vida, novo entendimento, nova expansão da consciência." (2)

(1) insconsfa.com

(2) Brigitte Champetier des Ribes, El Yo cuántico, polaridades y salto evolutivo, texto anexo ao video Ei Yo cuántico.
Tradução de Marcia Paciornik




segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Hellinger e a consciência familiar ou coletiva

Uma das das mais valiosas contribuições de Bert Hellinger foi trazer à luz o fato de que além da consciência pessoal também estamos vinculados a uma consciência coletiva. Este é um dos principais conceitos que fundamentam as constelações familiares. 

Inicio aqui a transcrição de alguns textos e entrevistas nos quais ele fala e escreve sobre este assunto.

Constelações familiares e consciência(1)
Para compreender a fundo o trabalho da constelação familiar, temos que nos abrir e compreender que em qualquer família ou grupo há uma alma comum trabalhando, uma alma familiar ou grupal. Tratarei de dar uma imagem da função que tal alma grupal deve ter tido no passado, e que ainda continua a ter. Também vou dizer algo sobre as "ordens" (leis) que esta alma traz para ser. Eu tenho uma imagem. Meu objetivo não é necessariamente buscar precisão histórica ou demonstrar algo. Mais exatamente quero proporcionar a possibilidade de as pessoas tomem medidas que vão em direção à mudança. Minha preocupação é ampliar nossa compreensão do papel que a consciência desempenha e desses impulsos inexplicáveis que muitas vezes terminam em tragédia. Isso deveria abrir o caminho para nos ajudar a resolver intrincações trágicas ou até mesmo para evitar que ocorram.
Os grupos originais eram tribos que agrupavam aproximadamente vinte e trinta membros. Eram altamente interdependentes e era impossível para qualquer indivíduo deixar o grupo, fosse qual fosse a situação. Da mesma forma, era inimaginável que alguém fosse excluído dessa relação de parentesco, com uma possível exceção: se alguém matasse outro membro do grupo. Um eco disso pode ser encontrado na história de Caim e Abel.

O direito ao Pertencimento
nesses grupos havia "duas ordens" fundamentais. A primeira "ordem" era que cada membro tinha o mesmo direito de pertencer ao grupo. Era inconcebível que qualquer membro negasse esse direito a outro. Da mesma forma, cada membro sabia que o bem-estar do grupo tinha prioridade sobre suas necessidades pessoais. Dentro de um grupo de nômades, os idosos ou os doentes seriam inevitavelmente deixados para trás e abandonados assim que fossem um fardo para o grupo. Eles estavam prontos para morrer e ninguém teria ficado em seu caminho por causa de um apego pessoal.
... a sobrevivência do grupo tinha preferência sobre qualquer tipo de compaixão por um indivíduo. Isso era cruel?  Não, eles sabiam seus limites e assentiam a isto. Aqui vemos que o direito de pertencimento ao grupo era menor do que o do bem-estar do grupo como um todo. Tudo se orientava em função da sobrevivência e continuidade do grupo.

A Ordem Sistêmica (de acordo com a antiguidade)
A segunda "ordem" neste tipo de grupo garantia a prioridade aos membros anteriores ou mais velhos sobre aqueles que vieram mais tarde, ou eram mais jovens. Desta forma, cada membro do grupo tinha o seu lugar no sistema. Com o tempo, um indivíduo progredia de uma forma completamente natural de uma posição inferior para uma posição mais elevada na hierarquia, e desse modo, não havia conflitos de hierarquia no grupo.

Consciência Coletiva
Estas duas "ordens", o mesmo direito ao pertencimento, e a prioridade para os primeiros ou membros mais antigos não surgiram de qualquer consideração racional. Eles foram predeterminados para o grupo "por uma consciência coletiva".  Qualquer transgressão dessas "ordens" dava lugar a uma má consciência e o sentimento de culpa garantia que um indivíduo voltasse a respeitar adequadamente as "ordens". Também podemos chamá-lo de "consciência grupal" ou "consciência familiar", e é diferente da "consciência individual" da qual eu vou falar mais adiante. Na sociedade contemporânea, esta consciência familiar tornou-se em grande parte inconsciente, mas em tempos pré-históricos, em um grupo tribal, deve ter sido consciente, pelo menos o suficiente para causar sentimentos de culpa em seus membros se as "ordens" fossem transgredidas, e sentimentos de inocência, uma vez que o delito se reconhecido e se expiado.

Consciência Pessoal
Ao se desenvolver a troca e o comercio entre estes pequenos grupos tribais se desenvolveu também o conceito de "nós" e "eles", bem como o sentimento de "pertencimento" ou "não pertencimento. Posteriormente, isso levou a uma diferenciação entre "bons" e "maus", ou "melhor do que" e "pior do que". Em uma fase posterior, essas diferenciações também foram dadas no grupo através de declarações como "Eu sou melhor do que você", ou "Eu tenho mais direito do que você de pertencer". Assim, juntamente com a "consciência coletiva" e seus sentimentos concomitantes de culpa e inocência, uma "consciência pessoal" foi desenvolvida que foi guiada pelos imperativos morais do bem e do mal. Essa consciência pessoal levou a um processo de individualização e consciência individual, com a qual diferentes membros do grupo mantinham valores diferentes uns dos outros. A partir daí, desenvolveu-se uma polarização entre o indivíduo e o grupo, e entre a liberdade individual e as normas e expectativas do grupo.
Ao longo dessa evolução, as normas e leis relativas à consciência coletiva foram empurradas para o reino do inconsciente e já não se expressariam diretamente. Dessa forma, a experiência individual tornou-se mais importante do que as necessidades do grupo, de forma que a consciência pessoal assumiu grande parte do lugar que anteriormente ocupava a consciência coletiva. Isso foi tão longe, que as pessoas interpretaram a voz da consciência pessoal como a voz de Deus, dando-lhes o direito de se opor às normas do grupo e culminou com a separação do indivíduo do grupo e sua consciência coletiva.
Sem embargo, esta consciência coletiva não deve ser esquecida. Na verdade, não pode ser ignorada porque é a base de toda a convivência humana e sempre será assim. Não importa quanto amplamente possa uma arvore desenvolver seu tronco ou estender seus ramos; sem suas raízes, ela vai morrer. Em termos de relações humanas, isso não significa que devemos duvidar do valor da consciência pessoal. O que isso significa, sem embargo, é que temos de estar conscientes das nossas raízes novamente e nos deixar levar, nutrir e limitar por elas.

Constelações familiares
O que tudo isso significa para constelações familiares? Nas Constelações familiares se revelam e experimentam as diferentes maneiras pelas quais a consciência pessoal e a consciência coletiva continuam atuando. E se pode ver claramente as consequências assustadoras e perigosas da repressão e negação da consciência coletiva. Aqui é aonde, apesar das nossas melhores intenções, se produzem os fracassos em termos de doenças que ameaçam a vida, de acidentes graves, de criminalidade e de suicídio. Todos esses sintomas indicam ignorância e transgressão das "ordens" da consciência coletiva, e por sua vez dão uma ideia de como podem se resolver estas intrincações ou diminuir-se ou, possivelmente, evitar-se no futuro...
... As Constelações Familiares nos dão uma ideia do que está por trás de muitos destinos trágicos e permitem a possibilidade de uma mudança benéfica para todos nós. O trabalho honra as exigências da consciência coletiva e as traz de volta à nossa consciência, sem comprometer as realizações individuais feitas através da consciência pessoal. Isso conecta as duas consciências a um nível superior, permitindo que o indivíduo transcenda os limites de seu pequeno grupo e se sinta parte de um todo maior, sem comprometer sua individualidade. Nesse sentido, constelações familiares servem para a reconciliação dentro de um grupo, e entre os grupos, são movimentos em direção à paz.
Segue-se que, para trabalhar efetivamente com pessoas em constelações familiares, elas devem ter entendido, internalizado e integrado dentro delas as "ordens" de consciência pessoal e consciência coletiva. Eles também devem ter transcendido e experimentado a reconciliação pessoal em um nível mais alto, no nível do que podemos chamar de "consciência da grande alma". Se for alcançado, então uma pessoa pode acenar para as "ordens" subjacentes da consciência coletiva, mas ao mesmo tempo pode ir além dessas limitações. A serviço disso algo maior, é possível manter intacto o que pertence à nossa evolução humana e, ao mesmo tempo, crescer como indivíduos para alcançar o máximo de realização pessoal.
   (1) Fuente: Systemic solutions bulletin. Fecha: Febrero 2001 www.insconsfa.com
         Autor: Bert Hellinger
       Tradução do Espanhol de Marcia Paciornik

sábado, 18 de janeiro de 2020

Hellinger: O que é a constelação familiar?

Trechos da Entrevista com Bert Hellinger por Laurent Montbuleau, para a Revista Recto-Verseau
Suiza, Enero 2006 (1)

Bert Hellinger: Como método, a Constelação da Família foi usada por outros antes de mim. Permitiu-me realizar algumas experiências, graças a ela obtive mais precisão sobre as relações humanas.  O uso desse método mostra que os representantes percebem imediatamente, diretamente, o que acontece no sistema familiar sem ter recebido qualquer informação sobre o assunto.  Recebo a informação que necessito para trabalhar observando os representantes; através do que eles fazem se produz um movimento no sistema.
Vemos onde o movimento se interrompe, onde ocorre um problema, como o movimento pode continuar e chegar a uma solução. É por este motivo que no meu trabalho confio plenamente no que os representantes expressam.  A Constelação Familiar começou de uma forma bastante superficial. O cliente escolhia os representantes para os membros de sua família e os colocava no espaço, relacionando-os uns aos outros. Eu perguntava aos representantes o que eles sentiam naquele lugar e as respostas que devam me permitiram ver o que estava acontecendo no sistema. Portanto, eu confiava nas respostas verbais dadas pelos representantes. Confio no que se manifesta. Este é o aspecto externo.
Pergunta: Você fala de um campo espiritual, é uma referência às descobertas de Rupert Sheldrake e seus campos morfogenéticos? 
Bert Hellinger: Sim, a pergunta é importante.  Rupert Sheldrake, do qual sou amigo, observou estes campos, não só nos sistemas familiares, mas também em sistemas mais amplos. Ele participou dos meus seminários. Me disse que tinha visto os campos morfogenéticos agirem nas constelações familiares. Desde então Sheldrake tem continuado com suas investigações. Ele agora fala de campos espirituais, de campos do espírito, chamando-os de um espírito expandido, um espírito alargado.  Na filosofia ocidental, em Descartes e Kant, por exemplo, encontramos a ideia de que há uma liberdade humana e que por si mesmo o homem reconhece o essencial e, portanto, pode agir em consequência. Essa visão generalizada entrou em nossa cultura ocidental; faz parte da nossa cultura.
A partir das observações de Sheldrake e da minha, em relação à demanda por autonomia, por exemplo, a ideia de que todos são responsáveis por seu comportamento e que ele deve ser responsabilizado pelo que ele faz, não pode mais ser mantida.   Através das constelações familiares, vê-se que cada um está ligado a muitas outras pessoas e elementos do sistema. Sheldrake chama isso estar em ressonância. A consequência extremamente importante que resulta disso é que neste campo nada pode se perder.   A ideia muito extensa de que poderíamos nos desfazer de algo, até mesmo fazer algo desaparecer, vencer outro povo, por exemplo, destruí-lo ou nos livrar de uma doença, é, portanto, aberrante. Na verdade, essas ideias de exclusão, o fato de que seria possível nos desfazer de algo e que já estaríamos livres disto, não pode mais ser defendida, mantida.  Em um campo tudo segue presente e continua atuando sobre todos os outros elementos do sistema, em particular os que foram excluídos do sistema; são eles que promovem a ação mais profunda.
Vamos dar um exemplo simples, que muitas vezes se manifesta nas constelações de família. Os membros de um casal que anteriormente tiveram outro relacionamento conjugal. Na nova relação eles têm filhos e de repente eles ficam surpresos com o comportamento de um de seus filhos.  Muitas vezes, quando alguém se separa de seu parceiro, ele/ela o/a recrimina, diz que é o/a culpado/a, e o/a parceiro/a acusado/a fica com raiva. No campo que constitui o novo casal, o/a parceiro/a descartado/a permanece presente e atua através do filho que manifesta os mesmos sentimentos que ele/ela representa. Este filho não está livre, está intrincado no campo do sistema. As consequências de uma exclusão são sempre as mesmas, o campo procura reintegrar as pessoas excluídas através do emaranhamento com alguns descendentes.
Pergunta: Esse sistema familiar, por exemplo, funcionaria como uma célula, um corpo orgânico que tentaria custe o que custe manter uma forma de homeostase? 
Bert Hellinger: Muito exatamente, é uma imagem muito bonita, muito bela. 
Pergunta: Então, partindo de um problema ou desequilíbrio a Constelação familiar tem como objetivo restaurar o equilíbrio e a harmonia? 
Bert Hellinger: Praticamente a solução consiste sempre em reintegrar a pessoa excluída no sistema. Em seguida, a pessoa que estava intrincada (implicada ou emaranhada) com a pessoa excluída estará livre e não será mais prejudicada pela influência dos excluídos. No entanto, ele não está livre para fazer tudo o que ele quer, apenas a má influência desaparece.
Essa pessoa está então em vínculo com o campo inteiro, e em vez de excluir, o campo integra. A pessoa então se sente completa e inteira. É nesse vínculo que a pessoa sente liberdade. Não é uma liberdade contra alguém, mas uma liberdade que tem em comum com os outros.  Constatamos, portanto, que nossa filosofia ocidental está superada. A realidade que manifestam as constelações familiares mostra que esta filosofia está incompleta, embora continue a influenciar amplamente nossa cultura.
A massa de crítica das constelações familiares vem daqueles que pensam que devem manter a antiga filosofia ocidental, filosofia que afirma que tal ideia é exata e que por tanto tal outra não pode sê-lo.  As Constelações Familiares e os conhecimentos que tornaram possível descobrir não são o fruto de uma reflexão; eles se fundamentam em observações, pois o importante é a realidade e o reconhecimento da realidade como ela se manifesta. 
Pergunta: O que você quer dizer por intrincações? Perturbam uma ordem sutil e enérgica?
Bert Hellinger: A intrincação é o resultado de uma desordem.
Em um sistema, a desordem essencial é a exclusão de um de seus membros.  Praticamente a solução consiste em reintegrá-lo no sistema. Escrevi um livro chamado "As Ordens do Amor". Nele eu mostro o que leva à desordem e como é possível restaurar a ordem. Ordem e desordem têm a mesma dinâmica. Há desordem quando alguém se crê ou se coloca em um lugar superior a outro, dizendo-lhe, por exemplo, "Você não é do nosso sistema", ou seja, "Eu sou superior a você".  Se olharmos então para o que se passa na alma, o que ela diz significa: "Eu tenho o direito de viver e você não."  É muito estranho quando se pensa nisso. A moral ou a que temos como tal até o exige, e leva à exclusão. É por isso que aqueles que excluem os outros se sentem bem, têm boa consciência. Consciência coletiva tenta então, sem sucesso, restaurar a integralidade do sistema, deixando que um descendente represente inconscientemente a pessoa excluída.
Não é possível ajudar a esse descendente, a menos que se saiba como se produz a desordem e como ela pode ser restaurada. A ordem é restaurada quando todos os membros do sistema se consideram como iguais e do mesmo valor. Então a paz se instaura e é eminentemente democrático.  A democracia como respeito pelo outro que tem o mesmo valor que eu.  Uma das bases para uma vida de um casal de exitosa entre duas pessoas diferentes é que consideram que tem o mesmo valor. Para cada um isto consiste em reconhecer e dizer ao outro: "Preciso de você". E ao fazê-lo os membros do casal zelam pela a harmonia entre o dar e o receber. Quando cada um toma o que o outro lhe dá, ninguém é melhor ou menos do que o outro. A igualdade é instaurada, uma equivalência e ordem se estabelecem.
Pergunta: Mas se no casal uma pessoa dá mais, isso pode criar uma forma de poder? 
Bert Hellinger: Exatamente, aquele que dá mais pensa que tem mais direitos. 
Muitos terapeutas dão muito e, portanto, acreditam que têm muito poder e influência e o cliente resiste.  Quando alguém dá um bom conselho a uma criança, a criança o segue? Geralmente não. Quando um conselho vem de cima ninguém, nem mesmo os adultos o seguem. Quando se mostra a uma criança como fazer certas coisas, ele pode comparar, fazer experiência. O faz porque tem direito de fazê-lo, não para obedecer.  Durante um seminário, uma participante contou como seu filho de doze anos ainda estava fazendo xixi na cama. A mãe foi consultar muitos terapeutas para seu filho, lhes contava o que estava acontecendo e o filho se sentia miserável.
Aquela mãe veio ver minha esposa. A primeira coisa que minha esposa lhe disse foi: "Não fale sobre isso com mais ninguém". A mãe então ficou brava com minha esposa. Uma semana depois, minha esposa recebeu uma carta daquela mãe dizendo-lhe que a partir do dia em que lhe tinha dito para parar de falar sobre o tema, seu filho tinha parado de fazer xixi. No campo, o menino tinha percebido o respeito que se lhe manifestava.
Pergunta: E como isso funciona? 
Bert Hellinger: As Constelações Familiares mostram de uma forma evidente que os representantes percebem imediatamente o que está acontecendo no campo da família, e que os membros da família que são representados sentem o que se passa na constelação. É por isso que não é necessário dizer a essas pessoas o que aconteceu, o campo se transforma por conta própria e aquela criança percebeu que minha esposa o respeitava. 
Pergunta: Estamos então dotados de uma sensibilidade muito maior do que poderíamos pensar?
Bert Hellinger: Exatamente. Platão já havia notado que a comunicação não é possível além que dentro de um campo.  Não poderíamos nos comunicar, ter esta entrevista os dois, se estivéssemos isolados. Podemos fazê-lo porque estamos em um mesmo campo. Este campo Platão o chama a alma. A alma é o que vincula o que une.
Pergunta: A partir de sua abordagem, muitas vezes você fala do movimento da alma. O que é isto? 
Bert Hellinger: Aristóteles fala da alma das plantas, dos animais e dos humanos. A alma tem duas tarefas: vincula, une certas coisas, e faz uma unidade com ela. Tudo o que está vivo está ligado pela alma. Meu corpo se mantem graças à alma. O mesmo para um animal e uma árvore. Desta forma, a alma está em mim e, ao mesmo tempo me supera, é mais do que eu. Sabe o que preciso, está ligada com outra coisa. O metabolismo que conhece minhas necessidades fisiológicas só pode funcionar porque está conectado a algo maior.
Como poderia uma vaca encontrar a erva que a cura? A adaptação é feita porque a alma está ligada ao todo e me integra.  Nesse sentido, há também uma alma da família, um campo do espírito. Sheldrake me disse que um filósofo, um certo Driesch (biólogo e filósofo alemão, iniciador de uma teoria vitalista: a filosofia do organismo) estudou essas coisas e as chamou de "alma". Colocou então em ebulição o mundo filosófico de sua época e para acalmar as coisas, ele substituiu o termo alma" pelo de "campo". A alma é algo espiritual cuja atividade consiste em unificar. Nas Constelações Famíliares, tal como eu as pratico, vemos os movimentos da alma.  
Pergunta: Para um observador externo que olha para o trabalho das Constelações, o que emana de conjunto pode parecer muito simples e conduz à confusão; é um método muito simples para ser realmente eficaz ...
Bert Hellinger: Os sucessivos desenvolvimentos que se produziram na Constelação Familiar fazem  que já quase não intervenha mais do que esporadicamente. Observo o movimento que atua através dos representantes. É sempre o mesmo: une algo. Volta a conectar coisas que se opunham até então.    Obviamente, isso tem consequências muito saudáveis nas famílias.    Podemos ver como um casal pode se reencontrar depois de um conflito causado por intrincações com relacionamentos anteriores ou vínculos com a família de origem.  De repente, eles percebem que não estão livres, e que em seu sistema há uma força boa que os une se eles se deixam levar por ela.   O mesmo ocorre com as relações das crianças com seus pais. Quando as crianças são difíceis, alguns pensam que são filhos "maus". mas, de fato, no sistema, o que eles querem é algo bom. Não é algo no qual pensam.
Pergunta: Você está falando de doenças graves, é também o caso de doenças crônicas?  
Bert Hellinger: Especialmente para doenças crônicas. Tivemos o caso de um rapaz que sofria de uma doença crónica na garganta. Fiz representar a sua doença; ela estava olhando para um morto. doença representada; ela estava olhando para um homem morto. O representante do jovem foi dando a volta ao redor do morto. Era um movimento muito bonito. E se tratava de uma simples dor de garganta...   Estes conhecimentos, por suposto, tem consequências para a medicina. Se se segue o movimento de uma doença, se chegar a uma pessoa excluída esperando que a reintegrem. Portanto, pode haver uma colaboração muito proveitosa entre constelações familiares e medicina.
Pergunta: ao observar seu trabalho notei uma qualidade muito particular de presença, de atenção, de escuta... e tive a impressão de uma cerimônia se desenrolando em um espaço sagrado...
Bert Hellinger: exatamente. Quando entro nesse trabalho, me vínculo com uma força muito maior do que eu e resulta em uma espécie de ritual. É um espetáculo sagrado. A tragédia grega era uma constelação familiar. Todo o público estava integrado na constelação, por tudo o que era uma espécie de purificação. Nas tragédias, os elementos importantes de um campo estão claramente presentes..
(1)   Fonte: www.insconsfa.com  “Gracias a la amabilidad de la Revista Recto-Verseau”
Traduzido do Espanhol por Marcia Paciornik