quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Como superar uma situação dificil?

Todos vivemos situações nas quais nos sentimos impotentes, dominados por emoções ou simplesmente congelamos, incapazes de reagir com clareza e prontidão. 

Estas situações nos tiram do nosso centro. Nos desequilibram.  É como se estivessemos no mar, andando na parte rasa, e de repente pisassemos em um buraco e afundassemos.

Quando nos desequilibramos e "perdemos o pé" podemos voltar rapidamente a nos reequilibrar e voltar a superficie ou levar um tempo maior nos debatendo e, talvez até afundar metaforicamente de forma irreversivel.  

O tempo em que levamos  para nos reequilibrar e voltar ao nosso centro vão depender de várias coisas, dentre estas se estamos presos a emoções limitantes, traumáticas e conflitivas do passado, da nossa infância, que nos afastam da situação presente e nos impedem de atuar da forma mais adequada e ágil à circunstancia que estamos vivendo.

Para Eric Berne, psicoterapeuta e criador da analise transacional, todos oscilamos entre três diferentes "estados"  (o  estado do“eu criança”, o do “eu pai ou critico moralista” e o do “eu adulto”).

Estes três estados convivem em nós simultaneamente sem que um tenha consciência da existência do outro. 

Apenas um deles está no presente: o do “eu adulto”. 

Os outros dois (estado do “eu criança” e o “do eu pai/critico”) estão voltados para o passado. O primeiro revivendo emoções não integradas da infância, quando por algum motivo vivemos uma situação dificil ou dolorosa e não tinhamos ao nosso lado um adulto para nos apoiar e ancorar, e o estado do eu pai/critico "repetindo" internamente "conselhos", " determinações" julgamentos, recriminações e criticas que escutamos, várias e várias vezes, de um adulto que respeitavamos ou temiamos na infancia.

Quando "pendemos" para o estado do “eu criança” estamos dominados por emoções antigas reprimidas e bloqueadas. Exigimos que os demais sejam perfeitos e propiciem tudo que necessitamos para ser felizes. Estamos totalmente voltados para a satisfação dos nossos instintos, para o nosso prazer. Somos incapazes de tolerar a frustração. As necessidades e sentimentos dos demais não existem para nós. Agimos e sentimos como quando éramos crianças.

No estado do “eu pai” imitamos, involuntária e inconscientemente, uma figura de autoridade influente da nossa infância. 

Fazemos isto, instintivamente, para preservar nosso direito de fazer parte, de estar "incluido" na "tribo".  Assegurando, através de  julgamentos, críticas, discriminações e rejeições que  que as regras do nosso grupo, da nossa cultura, da nossa família sejam obedecidas, mantidas e preservadas. E assim, sem muita consciencia, reproduzimos, por imitação/repetição, padrões de comportamento, atitudes e valores da geração de nossos pais e/ou avós. Ou seja, inadequadas para o momento e época que estamos vivendo.

Quando revivemos uma emoção da infância na vida adulta criamos barreiras ou nos defendemos e somos incapazes de ver a realidade como é. Não estamos no presente. Não vamos conseguir lidar com a situação. O mesmo acontece quando olhamos e lidamos com a situação com o olhar e do adulto do passado que estamos imitando.

Só podemos lidar com as situações difíceis com equilíbrio e tranquilidade no estado do “eu adulto”, quando estamos centrados, no presente, no aqui e agora, vendo a realidade como ela é, sem estarmos contaminados por ecos de emoções do passado ou de vozes de adultos da nossa infância nos dizendo o que fazer, como fazer e como nos sentir.
Todos estes aspectos fazem parte de nós, de quem somos, nos mostram algo e têm uma razão de ser e de existir. O problema é que nos tiram do centro, nos dominam, tiram nossa capacidade de pensar e de reagir de acordo com a realidade.
Podemos nos resgatar desta situação de agitação e impotência ativando o nosso  observador interno, o estado do eu adulto, aquela parte nossa que está no presente. Neste estado do eu permitimos que a nossa parte mais autentica se revele, acolhemos a tudo como é, a nossa criança, ao nosso critico moralista. Dando espaço e limites para ambos.
Quando estamos no estado criança, as emoções são exageradas ou minimizadas, e estamos buscando a aprovação dos demais, uma autoimagem idealizada de como os outros gostariam que nós fossemos, buscamos aquilo que é conhecido e seguro. Passando para o estado do eu adulto podemos nos abrir para o desconhecido, ir para a vida, relaxar, nos ampliar.
No estado do eu critico moralista ou pai, rejeitamos em nós e nos outros tudo que não é bem visto ou aceito no nosso grupo, na nossa cultura. Isto tira nossa força e faz com que tenhamos medo do que mora dentro de nós quando não está em conformidade com estas normas.
No eu adulto podemos nos abrir com curiosidade para o que rejeitamos em nós e atrapalha nosso crescimento. Nos sentimos firmes e confortáveis. Neste estado do eu aliciamos por ressonância o estado do eu adulto dos nossos interlocutores e os relacionamentos podem fluir melhor. Inversamente, quando estamos no estado do eu pai aliciamos o estado do eu criança da pessoa com quem estamos nos relacionando.
A questão é: como identificar quando nos encontramos nos estados do eu criança e do eu pai e nos resgatar para o eu adulto, para o observador?  Lembrando que um estado não tem consciência da existência do outro?
Estando atentos e conscientes de como nos sentimos em cada situação. Se estamos tranquilos, relaxados, serenos, seguros provavelmente estamos no estado do adulto. Mesmo que diante de uma situação difícil e conflituosa. Se nos encontramos em um  estado de agitação física, ou dominados por emoções, com taquicardia, palpitação, suor, ansiedade, agitação mental, dialogo interno intenso no qual buscamos ter razão em algo ou nos justificar, ou provar que o outro ou a vida ou a situação está errado ou deveria ser diferente do que é, estamos nos defendendo de algo ou criando barreiras a algo.
Sempre que nos defendemos há algum de medo oculto (medo de não ser aceito, medo de ser rejeitado por si mesmo ou pelos outros). Quando nos defendemos queremos ocultar algo de nós mesmos ou dos outros: ódio, vulnerabilidade, emoções caóticas...E nos defendemos de muitas maneiras: agredindo, nos submetendo ou nos retirando. As vezes de todas estas formas dependendo da pessoa ou da situação.
Quando a emoção é muito forte, para nos resgatar é necessário primeiro olhar para ela, acolher, dar espaço. Buscar o silencio interno desligando a mente e focando a atenção no corpo. Nas sensações do corpo. Acolhendo o que for como for. Permitindo que as sensações tomem o seu tempo e ocupem todo o espaço que precisarem.  
Existem muitas maneiras para resgatar o estado do eu adulto, mesmo nas situações mais difíceis. Quanto mais nos observamos e nos familiarizamos com elas, mais reconhecemos quando estamos nos defendendo e mais facilmente podemos nos resgatar.

Sinta-se a vontade para compartilhar este texto e para nos enviar duvidas, sugestões e comentários para constelarparavida@gmail.com

Marcia Paciornik
Maestria em novas constelações
Movimentos sistêmicos. Alinhamento sistêmico gradual. Constelações familiares, quânticas e organizacionais. Análise transacional. PNL sistêmica
11-991388337

(*) Texto baseado na teoria de Analise transacional do terapeuta Eric Berne, no curso de Analise Transacional de Brigitte Champetier des Ribes e no de Movimentos Essenciais de Claudia Boatti