terça-feira, 5 de setembro de 2017

O que significa "tomar" os pais?


Normalmente as pessoas  ficam intrigadas quando ouvem esta expressão. E com razão.

“Tomar,” em português, é uma palavra utilizada com frequência com o sentido de beber algum liquido, ou no de "pegar" algo, portanto causa alguma surpresa a ideia de "tomar" os pais.  

Esta era a real intenção de Hellinger ao escolher esta palavra. Uma metáfora para indicar que quando quando tomamos (bebemos) algo, por exemplo um suco feito com diferentes frutas, não podemos separar cada uma delas e bebemos o suco por inteiro. 

A ideia é  tomar nossos pais como são, sem separar o que gostamos ou não deles. Por inteiro, com o que é bom e com o que é ruim. Compreendendo que os pais são seres humanos, imperfeitos como nós, que nos deram de presente a vida, não importa o que ocorreu depois. Por mais difícil que seja ou tenha sido.

Olhar para eles com o mesmo amor incondicional que um bebe olha para a mãe. Sentir a mesma sensação de segurança, felicidade e alegria de um bebê quando olha e interage com ela.

Nem sempre porém os filhos estão em condições de “tomar” os pais ou os pais de “tomar” os filhos como filhos (com frequência por eles mesmos não terem conseguido tomar a seus pais).  Muitas dificuldades se interpõem neste caminho. 

Os sistemas familiares têm uma tendência a se desordenar (1). Para manter a integridade e continuidade dos sistemas, forças invisíveis como a da gravidade entram em ação e os mais jovens do sistema são tomados por elas para tentar incluir o que foi excluído ou ficou sem terminar.  

Quando as pessoas de um sistema encontram-se à serviço das chamadas forças de coesão e de compensação sistêmica, e “presas” à dinâmicas de compensação, não estão em seu lugar de filhos ou de pais e não se veem ou são percebidos como tal. Sómente quando estas dinâmicas são expostas claramente é possível haver uma liberação. 

A ferramenta utilizada para esta liberação, na metodologia de Hellinger, é constelação que é uma ferramenta fenomenológica (3)

“Através das imagens de solução que trazem as configurações familiares, o cliente pode encontrar uma solução para a implicação que se apresenta em seu sistema e, com isto, reconciliar-se com a história familiar e com os implicados nela” (2)

Outra causa descrita por Hellinger é o “trauma do amor interrompido.” Este trauma pode ocorrer quando uma criança de até 6 anos de idade se vê afastada de um ou de ambos os progenitores por um período longo de tempo. Como até esta idade é muito dificil para uma criança processar ou integrar  emocionalmente esta separação pode desenvolver um bloqueio ou trauma.

Na sociedade ocidental moderna as pessoas são incentivadas a se separar dos pais como se eles representassem um fardo em suas vidas. Em muitas linhas psicoterapêuticas, eles são mesmo considerados como a causa ou os responsaveis pelas neuroses e dificuldades pessoais dos filhos.

Assim não é de se estranhar que muitas pessoas vejam nos pais a fonte de muitas de suas dificuldades, bloqueios, neuroses, traumas e tenham em relação a eles sentimentos de ressentimento, mágoa, queixa. Muitas vezes até se colocam no papel de seus críticos, julgadores, “orientadores”, cuidadores, provedores invertendo a ordem natural na qual os pais dão e os filhos recebem. 

Estas dinâmicas acabam por criar uma nova desordem sistêmica cujos efeitos se farão sentir de imediato em suas vidas.

Naturalmente cabe aos filhos olhar e cuidar dos seus pais quando idosos, doentes, fragilizados ou impossibilitados. Em nenhum momento, porém, podem deixar o lugar de filhos, de menores em relação a eles. Os pais mesmo frageis e debilitados continuam sendo os "grandes", os maiores, os filhos sempre mostrando por eles respeito, consideração e assentimento aos seus desejos, ordens e vontades.

Em nenhuma hipótese cabe a um filho dizer a um pai ou a uma mãe o que ele ou ela deve ou não fazer ou como ele ou elas devem viver as suas vidas. Mesmo que eles desejem morrer. Esta é uma decisão que compete a eles como pais e aos filhos assentir, por mais dificil e doloroso que seja. 

Quando os filhos não conseguem ou se recusam a ”tomar” o que os seus pais têm para lhe dar ou estão focados apenas no que eles “não” deram, ou não olham e valorizam tudo o que receberam, mesmo que tenha sido apenas a vida, se desligam do fluxo natural da vida. É como se estivessem se recusando a viver.

"A pessoa que não tomou os seus pais não está no agradecimento. Quem não tomou a mãe tem muita carência, e o dinheiro é um substituto da mãe, uma metáfora. Estas pessoas vão buscar o dinheiro de forma compulsiva (inclusive através da corrupção). Sentem a falta das caricias maternas e se dão a si mesmos os favores e as caricias da vida. Isto, entretanto, não lhes preenche a vida".

Um filho ou filha que não consegue desfrutar o amor e a intimidade com sua mãe ou com seu pai não vai poder vivenciar um relacionamento afetivo de casal quando adulto. O relacionamento com os pais é nosso primeiro modelo de relacionamento, de afeto e de intimidade.

E a cada não que damos aos nossos pais, a cada recusa, a cada queixa, a cada crítica, a cada julgamento, nos afastamos da vida, do amor, da alegria, da saúde, da abundância, do sucesso, do trabalho, da realidade. Cada vez que nos sentimos “maiores” ou “melhores” do que eles, perdemos força, energia, impulso vital.

Não importa se estudamos mais do que eles, se alcançamos uma posição de influência ou social maior do que a deles. Não importa sequer se tivemos um pai ou mãe abusivos, ou que nos abandonaram ao nascer, ou que foram embora, que se recusaram a nos reconhecer, ou  que matou alguém (talvez mesmo um outro dos progenitores). Não importa o que não recebemos. Ou não tivemos. Se não tivemos: não existe! Se não existe não vamos perder tempo com isto (4)

O que importa é o que sim recebemos. E todos nós, sem exceção, recebemos de um pai e de uma mãe, a vida. 

O que nos cabe é “tomar” os nossos pais. Dizer sim a eles como são. Abrir nossos corações em agradecimento. Mesmo quando não sabemos quem sejam ou tenham sido. 

Agradecer a vida que recebemos através deles. 

E como disse Angélica Olvera de forma muito divertida e verdadeira “Tomar os pais não é como tomar uma vacina que você toma uma e pronto, acabou! É algo para fazer todos os dias, várias vezes ao dia. Café da manhã, almoço e janta! ” (4)

Por falar nisso, você já "tomou" seus pais hoje?

Marcia Paciornik 

Orientação e alinhamento sistêmico gradual sistêmico com metodologia de Bert Hellinger, Novas constelações familiares e quânticas. 
Maestria em Novas Constelações. Instituto de Constelaciones familiares Brigitte Champetier des Ribes
 
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