Constelações Familiares e sua evolução

Como todas as áreas das ciências humanas baseadas na observação empírica dos fenômenos, as  constelações vêm passando por  uma constante evolução. 
Numa primeira fase, Bert Hellinger atuava como psicoterapeuta, inspirado principalmente pela psicanálise, análise transacional e a Gestalt. Nesta fase os representantes não tinham autonomia de movimento eram direcionados como na técnica de psicodrama. 
No final dos anos noventa, ao perceber que os representantes, quando centrados, se moviam involuntariamente Bert Hellinger concluiu que agiam sob a influencia "forças" invisíveis e inconscientes  e escreve: "várias forças dirigem nossas vidas. Forças estas muito superiores a nós e ao serviço das quais temos que nos colocar." 
Segundo ele através da constelação era possível identificar "as dinâmicas e forças ocultas e inconscientes e encontrar a cura através do movimento autônomo e involuntário que guia a constelação para um desfecho imprevisível".
Inicialmente chamou este movimento "Movimento da alma". 
A partir de 2004 deu-se conta que a cura é sempre um movimento de reconciliação para além da consciência moral (ou seja que não importava o ocorrido, o dano causado. O que quer que seja que tenha ocorrido deveria ser olhado com o mesmo amor, sem julgamento). 
Nas palavras de Bert "Uma força superior move tudo a partir do amor, ao serviço da vida, pelo amor do Espírito". Neste momento fez uma distinção entre o que denominava “Movimento da Alma” e "Movimento do espírito".
O movimento da Alma, para ele, seria o movimento arcaico que mostraria a dinâmica inconsciente em que o cliente estaria preso, num emaranhamento em consequência da consciência moral (ou seja de um julgamento sobre o que seria certo ou errado, bom ou mau, de acordo com as regras e valores de seu grupo). 
O movimento do Espírito seria o que surge depois , muitas vezes na sequência de uma frase de cura, e que levaria para uma reconciliação e à cura.
Em seu livro, A fonte, de 2002, Hellinger escreve que "para constelar basta deixar agir o campo". 
O movimento do Espírito pertenceria, portanto, ao plano de Algo Maior, a essa grande consciência ou vazio criador, e a cura seria a necessária para todo o sistema familiar. A melhor cura para todos.
No seu livro sobre as constelações do Espírito, ele diz que as "antigas" constelações (nas quais os representantes ou o terapeuta falavam as frases ) são constelações de morte, por serem muito perigosas para o constelador. Como não respeitavam os sistemas familiares criavam novas desordens com consequências negativas para o cliente e sua família. 

De que forma estas constelações não respeitavam os sistemas familiares? Na medida em que um “jovem” (os que chegam depois ou por ultimo na hierarquia ou "ordem de chegada" em um sistema) se permitia mover ou fazer falar os que vieram antes, ou seja os ancestrais.
Nas constelações mais recentes, que alguns denominam "novas constelações" a energia de cura está no cliente. O constelador só coloca o cliente em contato com a sua própria força de cura. E essa energia de cura abre-se quando a pessoa sintoniza com a vida como ela é. Assentindo ao que é, foi ou está sendo como é.
As constelações familiares são um método terapêutico concebido pelo filosofo e psicoterapeuta Bert Hellinger que tem como objetivo trazer à luz as fidelidades ocultas "transgeracionais" .  
Trata-se de uma abordagem fenomenológica que se baseia na pura observação do que ocorre sem buscar "interpretar." Não se baseia entre diálogos entre terapeuta e paciente mas na observação de como o cliente (ou seu representante) reage corporalmente quando colocado imaginariamente diante de algo ou alguém que represente sua dificuldade. Como seu corpo se movimenta e reage, para onde vai o seu olhar e para onde ele se dirige ao final da constelação.
Para Bert Hellinger, quando a pessoa esta em uma lealdade inconsciente a uma situação ocorrida no passado, geralmente com alguém do seu sistema familiar, ele esta de costas para a vida. Não esta livre para viver o presente. Sua vida apresenta áreas de bloqueio, dificuldades, sintomas físicos, comportamentos inadequados e incoerentes.
A constelação transcorre em um espaço físico delimitado, muitas vezes denominado "campo," no qual se define uma direção ou ponto que se define como sendo a vida.  
O cliente ou uma pessoa que o representa ficarão em pé diante de algo (um objeto ou pessoa que será definido como representando a situação difícil que ele/a enfrenta ou que se repete em sua vida, ou um sintoma físico, ou uma dificuldade).
Trata-se portanto de uma abordagem terapêutica predominantemente fenomenológica que se baseia na pura observação do que ocorre sem buscar "interpretar."
Através dos movimentos involuntários dos representantes, vai se poder observar para onde o cliente "olha". Cada movimento, reação ou postura corporal do/a representante (ficar parado, paralisado, em pé, tombar no chão, dobrar o corpo, andar de costas para trás ou caminhar para frente em direção à dificuldade...) ou de seu corpo (olhos abertos ou fechados, mãos abertas, contraídas, estiradas ou balançando, entre outros) vai indicar uma fidelidade a algo do passado ou uma dificuldade pessoal como um trauma, um conflito, uma emoção não integrada, uma decisão precoce de seu roteiro de vida...(1)  

"Os representantes permanecem em um silêncio interno absoluto, apenas recebem emoção". 
"Só um movimento extremamente lento lhes dirige, sem que possam perceber para onde até que termine esse movimento. O constelador está totalmente conectado e em silêncio interno. Às vezes, recebe uma informação, uma frase ou a necessidade de trabalhar algum distúrbio".
PARTIR DO CENTRO.
Existe um requisito evidente para praticar essas constelações e movimentos: estar centrado. Este centramento ou abertura ao nada, ao vazio exige prática e, sobretudo, crescimento interior, tanto por parte do constelador como por parte dos representantes.
Se o representante ou o constelador não estiverem centrados irão manipular, projetando suas necessidades, e o resultado vai ser perigoso para o cliente e, por ressonância, perigoso para esse mesmo representante e para o constelador por ser ele o responsável.
As constelações  quânticas (3)
Estar em sintonia e agradecer à vida como ela é, produz um salto quântico em nossas vidas. Produz cura, mudança qualitativa, melhoria do bem-estar. O consentimento (sim a tudo como é e todos como são) e o agradecimento são forças do campo do Espírito, do centro vazio ou do grande campo, antecedem aos comandos do amor. 

São forças que curam as "ordens do amor" (2) e curam as nossas vidas. O que Bert Hellinger chama o amor do Espírito é a visão da vida sobre o qual o novo paradigma descansa: a visão quântica da vida. Por um lado o nosso olhar de observador neutro, que vê tudo com amor, gratidão e respeito, muda o que vê e ao mesmo tempo é transformado pelo que que vê.
"A observação se transforma em uma espiral ressonância sem fim, uma espiral de cura. Por outro lado, agora sabemos que somos energia, e que tudo é partícula e onda. Ao lado de cada partícula ou realidade materializada (desdobrada) existe um oceano de outras probabilidades. O salto da partícula a outra onda de probabilidade se dá quando o observador pare de olhar a partícula e não sabe o que vai acontecer".(3)
Na nossa vida, as coisas mudam quando deixamos de olhar para o problema, quando o aceitamos plenamente, para depois soltá-lo, parar de pensar nele, abrir-se à vida como ela é.

A partir da aceitação incondicional, da gratidão e do respeito o problema transforma-se noutra probabilidade, sempre melhor para todos que a anterior. 

As novas constelações integram a dimensão quântica da vida, na qual a pessoa se coloca como observadora da sua vida, aceitando ver tudo o que se desenvolve em frente a ela agradecendo e honrando tudo, para depois se despedir de seu passado e escolher a vida com o que lhe cabe, entregando-se ao grande campo e com uma sensação profunda de agradecimento à própria vida. 

"A constelação inicia-se com os representantes dos ancestrais que faltam. A partir desse momento, peço a todos os presentes que se entreguem ao centro vazio e se ponham ao serviço da vida do cliente".(3)
"Quando se sentem empurrados por alguma força externa para representar, o fazem, sem saber a que antepassados vão representar. Chega um momento em que "o movimento da alma" foi desenhado. Em que todos os antepassados intrincados na vida do cliente fizeram sua aparição e exibidos. Então chega uma nova etapa na constelação. Em um determinado momento o constelador sente que é necessário deixar a "partícula", O passado, o sofrimento e a sua abertura ao presente e às novas possibilidades. Já não somos os encarregados de curar aos nossos antepassados".(3)
A energia no campo está ao seu máximo cada vez que alguém pronuncia essa frase: escolho a vida. Tudo se transforma.
É quando ocorre o "milagre". Quando a pessoa escolhe com toda sua força viver a vida como ela é, o passado se cura e a liberta. 

Os que representam ancestrais, um após o outro, vão deitando-se e fechando os olhos. Costumam comentar a libertação, a paz e a alegria que lhes dá essa frase. Alguns representantes de pessoas que já morreram relatam mesmo que passam por um profundo processo de transformação: abandonam a sua identidade e voltam ao vazio. Já não é necessário buscar entre os antepassados para curá-los. Já não se deve saber quem eles foram. Somente ver tudo, agradecer e deixar para trás para ser entregue ao campo, à vida como ela é, desde o amor, sem intenção.
A chave da cura está na nossa decisão, na nossa escolha, seja qual for o peso anterior. O passado se cura graças a nossa aceitação, não por causa do nosso trabalho sobre ele... 

A evolução do movimento do Espírito nos mostra que o movimento de cura está em nós, na nossa escolha pela vida. O observador olha tudo com amor e gratidão e, ao fazê-lo, sua vida muda de frequência, sai da polaridade, dá um salto para algo diferente e sempre melhor: para mais vida e mais consciência.
Marcia Paciornik
(1) - Brigitte Champetier de Ribes em seu livro  Constelar la Enfermedad desde las Comprensiones de Hellinger Y Hamer escreve sobre estes movimentos do corpo e seu significado.
(2) Estas "ordens" (pertencimento, hierarquia e compensação ou equilìbrio entre dar e receber) observadas e trazidas à luz por Bert Hellinger são forças invisíveis que regem todos os sistemas. Segundo Brigitte Champetier de Ribes esta implícito na obra de Hellinger que ele considerava o assentimento como a primeira destas forças.
(3) Brigitte Champetier de Ribes, Instituto de Constelaciones Familiares (www.insconsfa.com

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