segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Hellinger e a consciência familiar ou coletiva

Uma das das mais valiosas contribuições de Bert Hellinger foi trazer à luz o fato de que além da consciência pessoal também estamos vinculados a uma consciência coletiva. Este é um dos principais conceitos que fundamentam as constelações familiares. 

Inicio aqui a transcrição de alguns textos e entrevistas nos quais ele fala e escreve sobre este assunto.

Constelações familiares e consciência(1)
Para compreender a fundo o trabalho da constelação familiar, temos que nos abrir e compreender que em qualquer família ou grupo há uma alma comum trabalhando, uma alma familiar ou grupal. Tratarei de dar uma imagem da função que tal alma grupal deve ter tido no passado, e que ainda continua a ter. Também vou dizer algo sobre as "ordens" (leis) que esta alma traz para ser. Eu tenho uma imagem. Meu objetivo não é necessariamente buscar precisão histórica ou demonstrar algo. Mais exatamente quero proporcionar a possibilidade de as pessoas tomem medidas que vão em direção à mudança. Minha preocupação é ampliar nossa compreensão do papel que a consciência desempenha e desses impulsos inexplicáveis que muitas vezes terminam em tragédia. Isso deveria abrir o caminho para nos ajudar a resolver intrincações trágicas ou até mesmo para evitar que ocorram.
Os grupos originais eram tribos que agrupavam aproximadamente vinte e trinta membros. Eram altamente interdependentes e era impossível para qualquer indivíduo deixar o grupo, fosse qual fosse a situação. Da mesma forma, era inimaginável que alguém fosse excluído dessa relação de parentesco, com uma possível exceção: se alguém matasse outro membro do grupo. Um eco disso pode ser encontrado na história de Caim e Abel.

O direito ao Pertencimento
nesses grupos havia "duas ordens" fundamentais. A primeira "ordem" era que cada membro tinha o mesmo direito de pertencer ao grupo. Era inconcebível que qualquer membro negasse esse direito a outro. Da mesma forma, cada membro sabia que o bem-estar do grupo tinha prioridade sobre suas necessidades pessoais. Dentro de um grupo de nômades, os idosos ou os doentes seriam inevitavelmente deixados para trás e abandonados assim que fossem um fardo para o grupo. Eles estavam prontos para morrer e ninguém teria ficado em seu caminho por causa de um apego pessoal.
... a sobrevivência do grupo tinha preferência sobre qualquer tipo de compaixão por um indivíduo. Isso era cruel?  Não, eles sabiam seus limites e assentiam a isto. Aqui vemos que o direito de pertencimento ao grupo era menor do que o do bem-estar do grupo como um todo. Tudo se orientava em função da sobrevivência e continuidade do grupo.

A Ordem Sistêmica (de acordo com a antiguidade)
A segunda "ordem" neste tipo de grupo garantia a prioridade aos membros anteriores ou mais velhos sobre aqueles que vieram mais tarde, ou eram mais jovens. Desta forma, cada membro do grupo tinha o seu lugar no sistema. Com o tempo, um indivíduo progredia de uma forma completamente natural de uma posição inferior para uma posição mais elevada na hierarquia, e desse modo, não havia conflitos de hierarquia no grupo.

Consciência Coletiva
Estas duas "ordens", o mesmo direito ao pertencimento, e a prioridade para os primeiros ou membros mais antigos não surgiram de qualquer consideração racional. Eles foram predeterminados para o grupo "por uma consciência coletiva".  Qualquer transgressão dessas "ordens" dava lugar a uma má consciência e o sentimento de culpa garantia que um indivíduo voltasse a respeitar adequadamente as "ordens". Também podemos chamá-lo de "consciência grupal" ou "consciência familiar", e é diferente da "consciência individual" da qual eu vou falar mais adiante. Na sociedade contemporânea, esta consciência familiar tornou-se em grande parte inconsciente, mas em tempos pré-históricos, em um grupo tribal, deve ter sido consciente, pelo menos o suficiente para causar sentimentos de culpa em seus membros se as "ordens" fossem transgredidas, e sentimentos de inocência, uma vez que o delito se reconhecido e se expiado.

Consciência Pessoal
Ao se desenvolver a troca e o comercio entre estes pequenos grupos tribais se desenvolveu também o conceito de "nós" e "eles", bem como o sentimento de "pertencimento" ou "não pertencimento. Posteriormente, isso levou a uma diferenciação entre "bons" e "maus", ou "melhor do que" e "pior do que". Em uma fase posterior, essas diferenciações também foram dadas no grupo através de declarações como "Eu sou melhor do que você", ou "Eu tenho mais direito do que você de pertencer". Assim, juntamente com a "consciência coletiva" e seus sentimentos concomitantes de culpa e inocência, uma "consciência pessoal" foi desenvolvida que foi guiada pelos imperativos morais do bem e do mal. Essa consciência pessoal levou a um processo de individualização e consciência individual, com a qual diferentes membros do grupo mantinham valores diferentes uns dos outros. A partir daí, desenvolveu-se uma polarização entre o indivíduo e o grupo, e entre a liberdade individual e as normas e expectativas do grupo.
Ao longo dessa evolução, as normas e leis relativas à consciência coletiva foram empurradas para o reino do inconsciente e já não se expressariam diretamente. Dessa forma, a experiência individual tornou-se mais importante do que as necessidades do grupo, de forma que a consciência pessoal assumiu grande parte do lugar que anteriormente ocupava a consciência coletiva. Isso foi tão longe, que as pessoas interpretaram a voz da consciência pessoal como a voz de Deus, dando-lhes o direito de se opor às normas do grupo e culminou com a separação do indivíduo do grupo e sua consciência coletiva.
Sem embargo, esta consciência coletiva não deve ser esquecida. Na verdade, não pode ser ignorada porque é a base de toda a convivência humana e sempre será assim. Não importa quanto amplamente possa uma arvore desenvolver seu tronco ou estender seus ramos; sem suas raízes, ela vai morrer. Em termos de relações humanas, isso não significa que devemos duvidar do valor da consciência pessoal. O que isso significa, sem embargo, é que temos de estar conscientes das nossas raízes novamente e nos deixar levar, nutrir e limitar por elas.

Constelações familiares
O que tudo isso significa para constelações familiares? Nas Constelações familiares se revelam e experimentam as diferentes maneiras pelas quais a consciência pessoal e a consciência coletiva continuam atuando. E se pode ver claramente as consequências assustadoras e perigosas da repressão e negação da consciência coletiva. Aqui é aonde, apesar das nossas melhores intenções, se produzem os fracassos em termos de doenças que ameaçam a vida, de acidentes graves, de criminalidade e de suicídio. Todos esses sintomas indicam ignorância e transgressão das "ordens" da consciência coletiva, e por sua vez dão uma ideia de como podem se resolver estas intrincações ou diminuir-se ou, possivelmente, evitar-se no futuro...
... As Constelações Familiares nos dão uma ideia do que está por trás de muitos destinos trágicos e permitem a possibilidade de uma mudança benéfica para todos nós. O trabalho honra as exigências da consciência coletiva e as traz de volta à nossa consciência, sem comprometer as realizações individuais feitas através da consciência pessoal. Isso conecta as duas consciências a um nível superior, permitindo que o indivíduo transcenda os limites de seu pequeno grupo e se sinta parte de um todo maior, sem comprometer sua individualidade. Nesse sentido, constelações familiares servem para a reconciliação dentro de um grupo, e entre os grupos, são movimentos em direção à paz.
Segue-se que, para trabalhar efetivamente com pessoas em constelações familiares, elas devem ter entendido, internalizado e integrado dentro delas as "ordens" de consciência pessoal e consciência coletiva. Eles também devem ter transcendido e experimentado a reconciliação pessoal em um nível mais alto, no nível do que podemos chamar de "consciência da grande alma". Se for alcançado, então uma pessoa pode acenar para as "ordens" subjacentes da consciência coletiva, mas ao mesmo tempo pode ir além dessas limitações. A serviço disso algo maior, é possível manter intacto o que pertence à nossa evolução humana e, ao mesmo tempo, crescer como indivíduos para alcançar o máximo de realização pessoal.
   (1) Fuente: Systemic solutions bulletin. Fecha: Febrero 2001 www.insconsfa.com
         Autor: Bert Hellinger
       Tradução do Espanhol de Marcia Paciornik

sábado, 18 de janeiro de 2020

Hellinger: O que é a constelação familiar?

Trechos da Entrevista com Bert Hellinger por Laurent Montbuleau, para a Revista Recto-Verseau
Suiza, Enero 2006 (1)

Bert Hellinger: Como método, a Constelação da Família foi usada por outros antes de mim. Permitiu-me realizar algumas experiências, graças a ela obtive mais precisão sobre as relações humanas.  O uso desse método mostra que os representantes percebem imediatamente, diretamente, o que acontece no sistema familiar sem ter recebido qualquer informação sobre o assunto.  Recebo a informação que necessito para trabalhar observando os representantes; através do que eles fazem se produz um movimento no sistema.
Vemos onde o movimento se interrompe, onde ocorre um problema, como o movimento pode continuar e chegar a uma solução. É por este motivo que no meu trabalho confio plenamente no que os representantes expressam.  A Constelação Familiar começou de uma forma bastante superficial. O cliente escolhia os representantes para os membros de sua família e os colocava no espaço, relacionando-os uns aos outros. Eu perguntava aos representantes o que eles sentiam naquele lugar e as respostas que devam me permitiram ver o que estava acontecendo no sistema. Portanto, eu confiava nas respostas verbais dadas pelos representantes. Confio no que se manifesta. Este é o aspecto externo.
Pergunta: Você fala de um campo espiritual, é uma referência às descobertas de Rupert Sheldrake e seus campos morfogenéticos? 
Bert Hellinger: Sim, a pergunta é importante.  Rupert Sheldrake, do qual sou amigo, observou estes campos, não só nos sistemas familiares, mas também em sistemas mais amplos. Ele participou dos meus seminários. Me disse que tinha visto os campos morfogenéticos agirem nas constelações familiares. Desde então Sheldrake tem continuado com suas investigações. Ele agora fala de campos espirituais, de campos do espírito, chamando-os de um espírito expandido, um espírito alargado.  Na filosofia ocidental, em Descartes e Kant, por exemplo, encontramos a ideia de que há uma liberdade humana e que por si mesmo o homem reconhece o essencial e, portanto, pode agir em consequência. Essa visão generalizada entrou em nossa cultura ocidental; faz parte da nossa cultura.
A partir das observações de Sheldrake e da minha, em relação à demanda por autonomia, por exemplo, a ideia de que todos são responsáveis por seu comportamento e que ele deve ser responsabilizado pelo que ele faz, não pode mais ser mantida.   Através das constelações familiares, vê-se que cada um está ligado a muitas outras pessoas e elementos do sistema. Sheldrake chama isso estar em ressonância. A consequência extremamente importante que resulta disso é que neste campo nada pode se perder.   A ideia muito extensa de que poderíamos nos desfazer de algo, até mesmo fazer algo desaparecer, vencer outro povo, por exemplo, destruí-lo ou nos livrar de uma doença, é, portanto, aberrante. Na verdade, essas ideias de exclusão, o fato de que seria possível nos desfazer de algo e que já estaríamos livres disto, não pode mais ser defendida, mantida.  Em um campo tudo segue presente e continua atuando sobre todos os outros elementos do sistema, em particular os que foram excluídos do sistema; são eles que promovem a ação mais profunda.
Vamos dar um exemplo simples, que muitas vezes se manifesta nas constelações de família. Os membros de um casal que anteriormente tiveram outro relacionamento conjugal. Na nova relação eles têm filhos e de repente eles ficam surpresos com o comportamento de um de seus filhos.  Muitas vezes, quando alguém se separa de seu parceiro, ele/ela o/a recrimina, diz que é o/a culpado/a, e o/a parceiro/a acusado/a fica com raiva. No campo que constitui o novo casal, o/a parceiro/a descartado/a permanece presente e atua através do filho que manifesta os mesmos sentimentos que ele/ela representa. Este filho não está livre, está intrincado no campo do sistema. As consequências de uma exclusão são sempre as mesmas, o campo procura reintegrar as pessoas excluídas através do emaranhamento com alguns descendentes.
Pergunta: Esse sistema familiar, por exemplo, funcionaria como uma célula, um corpo orgânico que tentaria custe o que custe manter uma forma de homeostase? 
Bert Hellinger: Muito exatamente, é uma imagem muito bonita, muito bela. 
Pergunta: Então, partindo de um problema ou desequilíbrio a Constelação familiar tem como objetivo restaurar o equilíbrio e a harmonia? 
Bert Hellinger: Praticamente a solução consiste sempre em reintegrar a pessoa excluída no sistema. Em seguida, a pessoa que estava intrincada (implicada ou emaranhada) com a pessoa excluída estará livre e não será mais prejudicada pela influência dos excluídos. No entanto, ele não está livre para fazer tudo o que ele quer, apenas a má influência desaparece.
Essa pessoa está então em vínculo com o campo inteiro, e em vez de excluir, o campo integra. A pessoa então se sente completa e inteira. É nesse vínculo que a pessoa sente liberdade. Não é uma liberdade contra alguém, mas uma liberdade que tem em comum com os outros.  Constatamos, portanto, que nossa filosofia ocidental está superada. A realidade que manifestam as constelações familiares mostra que esta filosofia está incompleta, embora continue a influenciar amplamente nossa cultura.
A massa de crítica das constelações familiares vem daqueles que pensam que devem manter a antiga filosofia ocidental, filosofia que afirma que tal ideia é exata e que por tanto tal outra não pode sê-lo.  As Constelações Familiares e os conhecimentos que tornaram possível descobrir não são o fruto de uma reflexão; eles se fundamentam em observações, pois o importante é a realidade e o reconhecimento da realidade como ela se manifesta. 
Pergunta: O que você quer dizer por intrincações? Perturbam uma ordem sutil e enérgica?
Bert Hellinger: A intrincação é o resultado de uma desordem.
Em um sistema, a desordem essencial é a exclusão de um de seus membros.  Praticamente a solução consiste em reintegrá-lo no sistema. Escrevi um livro chamado "As Ordens do Amor". Nele eu mostro o que leva à desordem e como é possível restaurar a ordem. Ordem e desordem têm a mesma dinâmica. Há desordem quando alguém se crê ou se coloca em um lugar superior a outro, dizendo-lhe, por exemplo, "Você não é do nosso sistema", ou seja, "Eu sou superior a você".  Se olharmos então para o que se passa na alma, o que ela diz significa: "Eu tenho o direito de viver e você não."  É muito estranho quando se pensa nisso. A moral ou a que temos como tal até o exige, e leva à exclusão. É por isso que aqueles que excluem os outros se sentem bem, têm boa consciência. Consciência coletiva tenta então, sem sucesso, restaurar a integralidade do sistema, deixando que um descendente represente inconscientemente a pessoa excluída.
Não é possível ajudar a esse descendente, a menos que se saiba como se produz a desordem e como ela pode ser restaurada. A ordem é restaurada quando todos os membros do sistema se consideram como iguais e do mesmo valor. Então a paz se instaura e é eminentemente democrático.  A democracia como respeito pelo outro que tem o mesmo valor que eu.  Uma das bases para uma vida de um casal de exitosa entre duas pessoas diferentes é que consideram que tem o mesmo valor. Para cada um isto consiste em reconhecer e dizer ao outro: "Preciso de você". E ao fazê-lo os membros do casal zelam pela a harmonia entre o dar e o receber. Quando cada um toma o que o outro lhe dá, ninguém é melhor ou menos do que o outro. A igualdade é instaurada, uma equivalência e ordem se estabelecem.
Pergunta: Mas se no casal uma pessoa dá mais, isso pode criar uma forma de poder? 
Bert Hellinger: Exatamente, aquele que dá mais pensa que tem mais direitos. 
Muitos terapeutas dão muito e, portanto, acreditam que têm muito poder e influência e o cliente resiste.  Quando alguém dá um bom conselho a uma criança, a criança o segue? Geralmente não. Quando um conselho vem de cima ninguém, nem mesmo os adultos o seguem. Quando se mostra a uma criança como fazer certas coisas, ele pode comparar, fazer experiência. O faz porque tem direito de fazê-lo, não para obedecer.  Durante um seminário, uma participante contou como seu filho de doze anos ainda estava fazendo xixi na cama. A mãe foi consultar muitos terapeutas para seu filho, lhes contava o que estava acontecendo e o filho se sentia miserável.
Aquela mãe veio ver minha esposa. A primeira coisa que minha esposa lhe disse foi: "Não fale sobre isso com mais ninguém". A mãe então ficou brava com minha esposa. Uma semana depois, minha esposa recebeu uma carta daquela mãe dizendo-lhe que a partir do dia em que lhe tinha dito para parar de falar sobre o tema, seu filho tinha parado de fazer xixi. No campo, o menino tinha percebido o respeito que se lhe manifestava.
Pergunta: E como isso funciona? 
Bert Hellinger: As Constelações Familiares mostram de uma forma evidente que os representantes percebem imediatamente o que está acontecendo no campo da família, e que os membros da família que são representados sentem o que se passa na constelação. É por isso que não é necessário dizer a essas pessoas o que aconteceu, o campo se transforma por conta própria e aquela criança percebeu que minha esposa o respeitava. 
Pergunta: Estamos então dotados de uma sensibilidade muito maior do que poderíamos pensar?
Bert Hellinger: Exatamente. Platão já havia notado que a comunicação não é possível além que dentro de um campo.  Não poderíamos nos comunicar, ter esta entrevista os dois, se estivéssemos isolados. Podemos fazê-lo porque estamos em um mesmo campo. Este campo Platão o chama a alma. A alma é o que vincula o que une.
Pergunta: A partir de sua abordagem, muitas vezes você fala do movimento da alma. O que é isto? 
Bert Hellinger: Aristóteles fala da alma das plantas, dos animais e dos humanos. A alma tem duas tarefas: vincula, une certas coisas, e faz uma unidade com ela. Tudo o que está vivo está ligado pela alma. Meu corpo se mantem graças à alma. O mesmo para um animal e uma árvore. Desta forma, a alma está em mim e, ao mesmo tempo me supera, é mais do que eu. Sabe o que preciso, está ligada com outra coisa. O metabolismo que conhece minhas necessidades fisiológicas só pode funcionar porque está conectado a algo maior.
Como poderia uma vaca encontrar a erva que a cura? A adaptação é feita porque a alma está ligada ao todo e me integra.  Nesse sentido, há também uma alma da família, um campo do espírito. Sheldrake me disse que um filósofo, um certo Driesch (biólogo e filósofo alemão, iniciador de uma teoria vitalista: a filosofia do organismo) estudou essas coisas e as chamou de "alma". Colocou então em ebulição o mundo filosófico de sua época e para acalmar as coisas, ele substituiu o termo alma" pelo de "campo". A alma é algo espiritual cuja atividade consiste em unificar. Nas Constelações Famíliares, tal como eu as pratico, vemos os movimentos da alma.  
Pergunta: Para um observador externo que olha para o trabalho das Constelações, o que emana de conjunto pode parecer muito simples e conduz à confusão; é um método muito simples para ser realmente eficaz ...
Bert Hellinger: Os sucessivos desenvolvimentos que se produziram na Constelação Familiar fazem  que já quase não intervenha mais do que esporadicamente. Observo o movimento que atua através dos representantes. É sempre o mesmo: une algo. Volta a conectar coisas que se opunham até então.    Obviamente, isso tem consequências muito saudáveis nas famílias.    Podemos ver como um casal pode se reencontrar depois de um conflito causado por intrincações com relacionamentos anteriores ou vínculos com a família de origem.  De repente, eles percebem que não estão livres, e que em seu sistema há uma força boa que os une se eles se deixam levar por ela.   O mesmo ocorre com as relações das crianças com seus pais. Quando as crianças são difíceis, alguns pensam que são filhos "maus". mas, de fato, no sistema, o que eles querem é algo bom. Não é algo no qual pensam.
Pergunta: Você está falando de doenças graves, é também o caso de doenças crônicas?  
Bert Hellinger: Especialmente para doenças crônicas. Tivemos o caso de um rapaz que sofria de uma doença crónica na garganta. Fiz representar a sua doença; ela estava olhando para um morto. doença representada; ela estava olhando para um homem morto. O representante do jovem foi dando a volta ao redor do morto. Era um movimento muito bonito. E se tratava de uma simples dor de garganta...   Estes conhecimentos, por suposto, tem consequências para a medicina. Se se segue o movimento de uma doença, se chegar a uma pessoa excluída esperando que a reintegrem. Portanto, pode haver uma colaboração muito proveitosa entre constelações familiares e medicina.
Pergunta: ao observar seu trabalho notei uma qualidade muito particular de presença, de atenção, de escuta... e tive a impressão de uma cerimônia se desenrolando em um espaço sagrado...
Bert Hellinger: exatamente. Quando entro nesse trabalho, me vínculo com uma força muito maior do que eu e resulta em uma espécie de ritual. É um espetáculo sagrado. A tragédia grega era uma constelação familiar. Todo o público estava integrado na constelação, por tudo o que era uma espécie de purificação. Nas tragédias, os elementos importantes de um campo estão claramente presentes..
(1)   Fonte: www.insconsfa.com  “Gracias a la amabilidad de la Revista Recto-Verseau”
Traduzido do Espanhol por Marcia Paciornik