Leis sistêmicas ou ordens do amor.

No decorrer do seu trabalho Bert Hellinger comprovou que os sistemas vivos (entre estes o familiar) são regidos leis naturais ou "forças invisíveis" que ele denominou de Ordens do amor." 

Estas forças  transcendem o nível dos sistemas familiares ou da consciência familiar: pertencem ao nível que Hellinger chama de "Consciência do Espírito". Nos levam a amar a tudo e a todos como são.

"A vida pensada e criada por Algo maior é regida por dois grandes campos: o da energia e o do espaço/tempo. Estes dois grandes campos contêm as “ordens do amor. Estas ordens do amor não podem não existir. São inexoráveis. Estão presentes em todos os sistemas vivos. São a estrutura da vida. Sua presença é percebida somente pelos seus efeitos, são mais profundas que nosso inconsciente, dirigem nossas vidas e nossas decisões. São campos de força a serviço da vida". Brigitte Champetier de Ribes (1)

O pertencimento

A primeira das forças invisíveis que atuam sobre nós  é a necessidade de pertencer. Para pertencer o ser humanos fará tudo o que o clã, família ou grupo exigir, seguir seus valores, crenças, hábitos, costumes, ideias, moral e tudo que o grupo considerar como certo ou errado. Mesmo às custas de excluir os demais.

Os valores do grupo de pertencimento são sempre considerados únicos e certos e os dos demais errados ou menos validos. Isto nos deixa em paz com nossa consciencia pois estamos em conformidade com o que dita nosso grupo mas é a origem de todos os conflitos, discórdias e guerras no mundo.

Quando começamos a aceitar os demais como são com suas ideias e valores e crenças e respeita-los como são sentiremos "culpa" por atuar de forma contrária aos valores de nosso grupo  mas 
crescemos como seres humanos.

Para Bert Hellinger "não há crescimento sem culpa."

Bert 

O Campo da Compensação

"O ser humano é energia  e, como tal, o que o impulsiona é a alternância das fases positivas e negativas. A compensação de uma fase por outra é o que cria o quantum de energia necessário. Isto torna a  necessidade de compensação uma força sem a qual não poderíamos existir, é a fonte da energia; sem ela, não há força e não há criatividade. Está ativa em todos os sistemas, em todo o universo. 

Compensação dos opostos, equilíbrio entre dar e receber, ganhos e perdas". 

"O movimento de equilibrar ou reconciliar opostos transformando em algo novo, é a fonte da energia; O ser humano tem força quando reconcilia suas partes masculina e feminina; os sistema sociais ganham força quando integram seus opostos". 

"Todo o universo está construído sobre a compensação ou equilíbrio de dois polos contrários que, ao se equilibrarem, geram energia. Tudo o que existe é dual. Se não há polaridade, não há possibilidade de criar energia". Brigitte Champetier de Ribes

1-compensando os opostos 

Quando ocorre um "desequilíbrio" há uma regulação automática, inversamente proporcional ao desequilíbrio, para que a energia do sistema continue dirigida a serviço de sua meta que  é transmitir a vida. Tudo tem que ir se compensando para criar movimento e evolução, ou seja, para criar vida.

A física quântica indica que tudo é energia e a estrutura da energia é bifásica, bipolar. O salto quântico vai se produzir quando se compensarem as duas fases. Nas nossas vidas ocorre o mesmo, chegamos ao amor, à mudança e à plenitude cada vez que conseguimos compensar duas polaridades ou reconciliar dois opostos.

2-Equilibrando  dar e receber amor

Dar ou tomar algo de outra pessoa mantém viva a relação e cria os vínculos. A pessoa que dá se sente superior, inocente, livre (não deve nada a ninguém) e adquire o direito de exigir sua compensação. Quem recebe ou toma se sente inferior, por dever algo, dependente da pessoa que lhe deu e na obrigação de devolver, de compensar.

Em uma família, os filhos não podem deixar de receber de seus pais. A dívida que adquirem é a força que os empurra devolver ao seu entorno e a seus filhos, sem esperar nada em troca.

Quando os filhos tomam/recebem de seus pais, com amor e respeito, sem questionamento, o que eles lhe oferecem como eles são, sentem-se plenos: sabem dar e sabe receber. Os filhos que não conseguem sentem-se vazios, o vazio dos deprimidos. 

Nos casais, o que cria amor, é que cada um tome ativamente aquilo que o outro lhe dá.

3-As regras do dar e do "receber" ou do tomar

Ao dar: 
  • Somente dar o que tenho.
  • Somente dar o que o outro pode receber.
  • Somente dar o proporcional ao que o outro pode devolver
Ao receber:
  • Valorizar o que o outro me dá, sabendo que sempre será diferente do que eu lhe dei.
  • Agradecer, dando-lhe um pouco mais, mostrando assim meu reconhecimento, e o mais próximo de suas necessidades.
Quem recebe mais do que pode dar sente-se inferior e culpado o que acaba por trazer rompimento à relação. A pessoa que dá demais, coloca a relação em perigo, porque em seu foro íntimo quer que o outro a compense, transformando-se em sua mãe, encarregando-se de todas as suas necessidades.

4-Desequilíbrios no tomar e dar

  • Não tomar devido a alguma desordem ou trauma que causou ressentimento, soberba, solidão.
  • Não dar por uma desordem que cria egoísmo, raiva, solidão.
  • Somente dar: muito comum entre os terapeutas, idealistas, esotéricos, vegetarianos. Quem somente quer dar sente-se superior a um de seus progenitores e não tomaram dele. Como consequência não conseguem tomam dos outros ou tomam apenas de um modo limitado. A "boa consciência" faz com que esteja próximo de se transformar em perpetrador “pelo bem do outro”. Esta dinâmica é comum com pessoas que não querem/podem tomar sua mãe. 
  • Dar demais: quem recebe não pode corresponder; você se converteu na mãe e, assim, sente-se no direito de exigir que o outro também se converta na sua mãe. Você não se se permite ser você mesmo, estar em dívida com o outro, ir de igual para ele e entra em um papel parental. O resultado é sentimento de superioridade e solidão.
  • Somente receber, tomar: quem age desta maneira não quer crescer, quer culpar seus pais e os outros. Torna-se tirano, raivoso e solitário. Rejeita o que seus pais e a vida lhe dão e fica no ressentimento, na queixa. Ao invés de agradecer, exige mais. Torna-se perpetrador para impedir que alguém desfrute, uma vez que ele não quer desfrutar. Desfrutar da vida implica em ser grato/a aos pais. Está dinâmica ocorre com frequência com alguém  que substitui uma criança morta (um aborto, alguém que morreu ao nascer, ou cuja mãe morreu antes de dar a luz, grávida).
"Estar na solidão e no egoísmo indicam falta de amor ao que existe à sua volta. Como resultado você não irá receber nenhuma gratificação, não será recompensado pelo com a prosperidade. O egoísmo costuma surgir quando alguém sente que a pessoa que tem à frente não o respeita. A prosperidade é fundamentalmente a resposta do Entorno para um amar a todos, sobretudo aos “maus”. Amor, vida, dinheiro são energias equivalentes". Brigitte Champetier de Ribes

5-Equilibrando o dano (a vergonha e a expiação)

Quem causa um dano (perpetrador) e a sua vítima estão a serviço da vida. Ambos estão a serviço de uma futura reconciliação. Esta dinâmica de reconciliação será uma grande fonte da energia para os dois sistemas.

Para que isto possa ocorrer (amor transformando-se em força/ energia/ movimento) é necessário que, tanto o perpetrador quanto a vítima, reconheçam o que viveram e assumam o corrido. Cada um tem que ser capaz de olhar e ver o outro como ser humano. 

Se o perpetrador, ou seus familiares, não incluírem a vítima em sua própria vida, um descendente terá que olhar para ela ou viver como /por ela , com uma destas dinâmicas: “Eu como ela, serei uma vítima” ou “Eu por ela, vingarei seu sofrimento, farei justiça eu mesmo por ela”. 

O mesmo ocorre com a vítima e seus familiares. Ao não incluírem o perpetrador como um igual (nós somos iguais) um de seus descendentes terá que substituir o perpetrador excluído, com uma destas duas dinâmicas: “Eu como ele, serei um criminoso” ou “Eu por ele, irei expiar pelo dano que ele fez”.

"O perdão é um veneno para as relações. O perdão verdadeiro vem do reconhecimento que todos somos iguais".

Quando ocorre a reparação a culpa desaparece. 

Ao assumirmos reparar aceitamos que a realidade tem que ser vista e encarada como é e que o culpado tem a opção de fazer algo por sua vítima. 

O perdão, por outro lado, é um movimento de quem deseja a apagar a realidade. Por esta razão é uma dinâmica infantil. Ao pedir para ser perdoada a pessoa no fundo esta pedindo para que o seu ato seja esquecido como se nunca tivesse acontecido. Ao olhar para seus atos e assumir reparar a pessoa esta agindo de forma adulta. O perpetrador e a vitima podem olhar para o que ocorreu cada um reconhecendo o seu papel e sua responsabilidade.  Este ver e aceitar permite que o amor flua e que necessidade de reconciliação não recaia sobre um nenhum descendente.

A expiação satisfaz o ego mas quem cometeu o dano permanece com a energia assassina. Vai dirigir a energia para si mesmo, auto agredindo-se  e negando-se a viver alegremente. Vai passar a agredir a seu entorno obrigando todos a sofrer como ele. "Quem está na expiação é um perfeccionista, um puritano, que se promove como modelo para que todos sofram a mesma repressão que ele está se auto-infringindo" (1).

Nestes casos cabe ao terapeuta se aliar com o perpetrador (não com a vitima). Demonstrar respeito e compaixão por ele mas indicar a sua responsabilidade que é: olhar para o dano que causou e assumir as consequências até decidir reparar. 

O campo espaço temporal

Os seres humanos se materializam no espaço dentro de cada sistema ao qual pertencem num lugar especifico determinado pela dimensão tempo. Devido a esta dimensão (tempo) a experiência humana tem um princípio e um fim, nascimento e morte, experimentando a evolução e a mudança. Para fluir com força essa energia materializada tem que respeitar o sentido do movimento do tempo e o lugar correspondentes. 

Se alguém que chegou depois quiser se colocar antes ou se alguém foi eliminado de seu lugar ou decidiu não estar no lugar que lhe corresponde não há FORÇA.

A ordem e pertencimento são inseparáveis: quem chegou primeiro tem preferência sobre o quem chegou depois e cada um tem um lugar.

1-A ordem ou hierarquia

Do exposto conclui-se que cada pessoa tem um único lugar possível, gostando ou não, e apenas estando neste lugar vai receber todas as bondades da vida (força, sucesso, saúde, amor). 

Não há crescimento pessoal se pessoa não está em seu lugar pois é esta lei que permite o reconhecimento natural e inconsciente de algo maior e a conexão com o que sempre esteve, com esse algo maior que pensa e move tudo tal como é. Não raramente estar fora seu lugar leva à morte: doenças graves, acidentes mortais etc.

Quem chega depois tem que respeitar quem estava antes dele. Quando o que chegou primeiro à vida é respeitado pelo que veio depois volta-se amorosamente para o mais jovem. 

A ordem permite "tomar" (receber) a mãe e “Sem mãe não há nada, nem parceiro, nem sucesso, nem saúde”. Bert Hellinger

Pelo fato de haver um lugar preciso para cada um significa que todos pertencem, todos têm direito a seu lugar, independentemente do que tenha acontecido, independentemente do que tenham feito.

Enquanto não estiver em seu lugar, a pessoa não se conecta com a realidade, nem com o espírito e muitas vezes acaba por se envolver em um mundo espiritual ou de crenças que nada mais é do que a substituição dos pais que ela não conseguiu tomar. 

Do respeito à ordem nasce o amor adulto e rico. Quando todos estão em ordem (ou no lugar que lhe corresponde)  há respeito e paz. A desordem leva ao fracasso e à morte.

Pertencimento e a hierarquia ou ordem de chegada caminham totalmente unidos. Quando alguém não está em seu lugar, ou usurpa o lugar de um excluído ou cria uma nova exclusão. 

O sistema familiar vela pela integridade do clã, impedindo qualquer tentativa de exclusão ou esquecimento. Quando alguém é rejeitado, um mecanismo cego designa um ser mais jovem para representar este rejeitado, para que seja visto e reintegrado. 

Na memória do campo familiar se conserva a recordação de tudo e de todos.

2-A ordem entre sistemas e membros de um mesmo sistema

O sistema mais novo coloca mais energia serviço da vida e sempre tem precedência sobre o mais antigo. A família atual tem preferência sobre a família de origem. Os adultos têm que se separar de seu sistema de origem para se entregar à criação e manutenção de um novo sistema.

Entre sistemas diferentes ou membros de um sistema aquele que veio antes tem preferência sobre aquele que veio depois, o membro que foi introduzido ao sistema há mais tempo tem preferência sobre o membro mais recente (o avô tem preferência sobre o pai, o filho de um primeiro matrimônio tem preferência sobre o cônjuge do segundo matrimônio (No caso de empresas se avalia de forma conjunta antiguidade com a função e o status).


Nota: (1) Partes deste texto foram extraídas e adaptadas de um texto do Instituto de Constelación Familiar de Madrid (www.insconsfa.com) dirigido por Brigitte Champetier de Ribes.

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