segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Perder a humanidade

 

Cada membro da espécie humana, independentemente de sua individualidade que é sempre única, tem em algo em comum que une a todos. Podemos ser de famílias, países, culturas, conhecimentos, condição financeira diferentes todos porém igualmente humanos, ligados por um elo comum que é nossa humanidade.

Entretanto não é incomum olharmos para alguém próximo (um amigo, um familiar, um colega de escola ou trabalho) e principalmente os mais distantes (um politico, um comentarista de TV, um policial na rua) e internamente colocar um rótulo (idiota, corrupto, violento...). 

Normalmente trata-se de algo desta pessoa que instintivamente repelimos por ser contrário aos valores e regras da nossa cultura ou de algum dos nossos grupos de pertencimento. 

Quando olhamos para alguém (uma situação, um grupo) e só conseguimos ver uma característica ou um aspecto dela que nos desagrada (agressivo, mentiroso, ignorante, maldoso, desonesto) estamos excluindo as facetas e atributos bons e até mesmo admiráveis que esta pessoa ou grupo com certeza também possuem. 

Sabemos, por nós mesmos e nossas próprias imperfeições, que todos temos diversas facetas, virtudes e defeitos. Somos, afinal, humanos. O que nos une, além da identidade como espécie, é também nossa imperfeição. O reconhecimento de que cada um de nós como é tem uma contribuição a dar e não sabemos qual é. 

As pessoas não se reduzem ao aspecto delas do qual não gostamos. Mesmo quando não compreendemos sua contribuição, ou discordemos de como fala, se comporta ou age. Somos pequenos demais para compreender o papel de cada um, o que cada um veio fazer.

Quando não consigo reconhecer que, como eu, a pessoa tem aspectos bons e ruins ela perde a humanidade e se transforma em um rótulo. E eu também me reduzo a um rótulo (excluidor, rotulador, intolerante, julgador). Reduzo a pessoa a um aspecto dela e me reduzo a alguém incapaz de ver além deste aspecto. 

E notem, fazemos isto o tempo todo, sem sequer nos dar conta. É instintivo. É uma necessidade ditada pela nossa necessidade de pertencer, (1) de fazer parte de um mesmo grupo, de uma cultura, de uma família (com as normas, valores e regras que acreditamos serem os mais certos, os únicos verdadeiros).

Não nos damos conta de que, quando rotulamos alguém (corrupto, violento, ladra, abusador, ignorante, judeu, fanático), estamos sendo violentos! (2) Mesmo quando nos julgamos defensores da paz, da não violência. E o pior é que nos sentimos "bons," "corretos," "certos," plenamente justificados em nosso comportamento. 

E é normal que seja assim. Estamos defendendo nosso direito de continuar "pertencendo" ao nosso grupo familiar, politico ou qualquer outro que seja que desejamos fazer parte, a "cultura" que consideramos boa e correta.

Não nos damos conta que esta forma de olhar para o outro cria mal estar interno em nós mesmos, no outro e ao nosso redor. 

Se prestarmos a atenção vamos perceber que algo muda em nosso corpo quando, ao percorremos as redes sociais ou assistindo um noticiário, nos deparamos com algo que, segundo nossos valores, é incorreto, agressivo, injusto, desrespeitoso, desonesto ou falso. Nosso corpo vai tensionar, enrijecer, o coração se tornar mais pesado. A mandíbula ou as mãos podem se contrair. O coração ficar mais "pesado." É sutil, mas vai ocorrer.

Isto ocorre porque somos seres vibrantes e ressonantes e a forma como vemos o outro altera a nossa vibração interna e repercute nos que estão à nossa volta. E assim, sem mesmo desejar, estamos contribuindo para o crescimento do mal estar coletivo, para o aumento da agressividade e da violência no planeta.

Quando só vemos algo ruim de alguém, de uma situação, de um grupo "estamos sendo violentos." sem nos dar conta e contribuindo para aumentar a violência ao nosso redor. 

O importante é saber que não precisa mais ser assim. Com o conhecimento que temos hoje sobre a necessidade de pertencer podemos escolher conscientemente começar a atuar de outra maneira. 

Reconhecer que todos têm o mesmo direito de pertencer e cada um de nós tem um propósito, está a serviço de algo na evolução do planeta e da humanidade. Mesmo que não saibamos qual, mesmo que nos seja difícil aceitar ou até mesmo que julguemos nocivo. 

Vamos nos sentir culpados mas vai valer a pena. 

Hellinger nos ensina que não há crescimento sem culpa! A escolha é nossa: continuar alimentando os campos de consciencia da exclusão, da intolerância, da violência ou crescer e resgatar nossa humanidade.

Marcia Paciornik

Constelações Familiares e Quânticas (individual, on line) e Movimentos Essenciais (encontros inviduais, on line, para aprendizado e prática).

(1) Bert Hellinger trouxe à luz, a partir de suas observações, que diversas forças atuam sobre nós e que estamos sob a influência das necessidades de duas "consciências: a "grupal," que atua para garantir o crescimento, sobrevivência e coesão dos sistemas, se "impondo" sobre os seus membros, e a "pessoal," que tem como uma de suas necessidade o pertencimento. Para esta consciencia só nos sentimos com direito a pertencer quando seguimos fielmente as regras, normas e valores da nossa família e da nossa cultura. 




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