sábado, 10 de setembro de 2022

O medo, a raiva e minha criança interior

O medo é um grande aliado. Precisamos dele para reagir ao que nos ameaça. 

Se estamos "ligados" com o que esta ocorrendo à nossa volta (i.é. vivendo no presente), no momento em que ocorrer algo que possa  impactar na nossa integridade (física ou emocional), o medo nos fará reagir na medida e na intensidade adequadas. Vamos  fugir, nos defender ou paralisar. O que seja necessário e compatível na situação.

Se estamos "distraídos", pensando em algo que eventualmente possa vir a acontecer, ansiosos ou em algo que já ocorreu e nos desagradou não seremos capazes de reagir apropriadamente. 

Pode reconhecer quando e como isto ocorre com você ?

Talvez possa lembrar de algum acontecimento corriqueiro, algo que aconteceu ou se repita com frequência e diante do que  tenha se percebido  reagindo com um medo ou raiva intensa, desproporcional ao acontecimento.

Eric Berne, criador da analise transacional,  observa que quando estamos "conectados" no momento presente, nos encontramos no "estado do eu" que ele chamou de "EU" adulto. Neste "estado" agimos e atuamos de forma coerente, compatível com o que esteja ocorrendo e na intensidade adequada

A pergunta é: onde  "EU" estou nos momentos de "distração"? 

Segundo Berne, quando estamos dominados por uma emoção intensa, incontrolável, desproporcional e duradoura, revivemos uma emoção da infância. Uma emoção  "encapsulada" que nos remete a um trauma ou conflito que ocorreu quando éramos pequenos. Estamos no estado do "EU criança ou infantil". 

Aquele momento desproporcional de medo ou raiva é esta parte nossa, bem pequena, assustada, reagindo. Nossa parte criança, fazendo birra, tendo um chilique, não querendo que ninguém tenha razão a não ser ela...

As emoções, quando desproporcionais e inadequadas, normalmente ocorrem quando estamos distraídos nesta criança ou vinculados, inconscientemente, a um trauma, conflito ou evento do passado familiar, cuja existência ignoramos completamente.  

Estamos repetindo emoções e reações de quando éramos pequenos ou, como observou Bert Hellinger, revivendo, instintiva e inconscientemente uma situação muito antiga, baseado em acontecimentos que ocorreram no passado familiar.

Por exemplo, fico sabendo que um conhecido de quem não gosto vai dar uma festa e recebo um convite. Se estou na minha parte mais crescida (presente e adulta) decido se quero ou não comparecer, agradeço e não penso mais no assunto. Minha mente permanece calma. Meu coração tranquilo. 

Se estou no estado do "EU" criança (que me remete a emoções da infância) fico me debatendo entre ir ou não sem conseguir decidir. Minha mente fica agitada com pensamentos e argumentos repetitivos e conflitantes sobre o assunto. 

Em nossa atividade profissional quando atuamos  a partir deste "eu criança" normalmente nos comportamos de forma desapropriada. Por exemplo Sou comentarista esportivo e torço para um time que é finalista do campeonato nacional. Vou cobrir o jogo que vai ser na cidade do meu time. Se estou em conexão com o presente a realidade como é, no meu "EU" crescido, adulto, vou interiormente desejar que o meu time ganhe mas com a alma leve, a mente tranquila. Reconheço a possibilidade que ele possa pode perder mas com o coração em calma e a mente apaziguada. 

Se estou no "EU" criança, a simples ideia de o time oponente poder vir a ganhar vai me causar reações e emoções violentas, desproporcionais, incontroláveis. 

Posso por exemplo  acusar o time adversário de faltas inexistentes, desmerecer, desqualificar, ridicularizar seu técnico e seus jogadores. 

Isso acontece com mais frequência do que possamos imaginar. 

Procure notar quando olhar, assistir ou ler algo no qual perceba que o protagonista ou autor esta dominado por emoção desproporcional e intensa, uma raiva que distorce suas feições, sua fala, sua escrita, que usa termos pesados, agressivos, desqualificatórios, humilhantes, saiba que é a criança amedrontada que mora nele se expressando.  

Ele não consegue agir de outra maneira. É inconsciente e instintivo.







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