P-Você também observou que existem dinâmicas que resultam de forma
recorrente em acidentes ou a padrões de azar. Pode nos contar sobre a dinâmica nestes casos?
R-Doenças graves, suicídios ou
tentativas de suicídio, ou acidentes são algumas das coisas que vemos com frequência em psicoterapia e que são motivadas pelo amor – o amor de uma criança pequena. As
crianças amam de acordo com um sistema de crenças mágico. Para a criança, amor
significa: "Para onde você me guiar, eu te seguirei, o que você fizer eu
farei”, ou "Te amo tanto que quero estar contigo sempre." Isto significa:
"Te seguirei em tua doença" e "Te seguirei na tua morte." Quando
alguém quer amar desta maneira ele ou ela é naturalmente vulnerável e propenso
contrair uma doença grave.
P-Mas como pode se sentir
a pessoa que é amada desta forma? Como pode se sentir ao ver que sua doença ou
sua morte está causando que uma criança fique doente? Como se sentirá? Mal, não
é mesmo?
R-Exatamente! Nas constelações,
observamos invariavelmente que os falecidos, os enfermos, e aqueles que
sofreram uma sorte difícil, desejam que os sobreviventes estejam bem. Uma morte,
desgraça ou azar é suficiente. Os mortos sentem-se “bem-dispostos” em relação
aos vivos. Não é apenas a criança quem ama, mas também os que sofreram e
morreram. Para que a cura sistêmica possa ter exito, a criança debe reconhecer
o amor de seu Parente morto e debe honrar sua sorte e seu destino.
P-Não fica claro para mim o que significa quando você diz: "reconhecer seu amor e honrar sua sorte."
R-Quando uma criança morre os
demais membros da família tendem a ter medo -em parte, porque eles também, talvez
inconscientemente, sentem o tipo de amor que os faz querer seguir a criança. Para
conter seu medo, eles adormecem seus sentimentos. Em efeito, tiram a criança de
seus corações e de sua alma. Pode ser que
falem da criança, mas se separaram dela ou calado seus sentimentos. Então, mesmo
quando a criança esteja morta ela ainda tem uma influencia mortal sobre o
sistema familiar: a morte dos sentimentos. Para que o amor prospere, a criança
deve ter um lugar na família, como se ela estivesse viva. Os membros sobreviventes
da família devem viver seus sentimentos pela criança, seu pesar e seu luto. Podem
colocar uma fotografia da criança, ou plantar uma árvore em sua memória. Mas a
coisa mais importante é que os sobreviventes levem o falecido com eles em sua
vida, e permitam que seu amor pela criança viva.
Muita gente age como se os mortos
tivessem partido. Mas aonde podem ir? Obviamente, estão fisicamente ausentes, mas também seguem presentes em seus efeitos contínuos sobre os vivos. Quando tem um
lugar apropriado dentro da família, as pessoas falecidas têm um afeto amistoso.
De outra maneira causam ansiedade. Quando se lhes da um lugar apropriado, eles
apoiam aos vivos em sua vida ao invés de apoiar-los em sua ilusão de que
deveriam morrer.
P-O que ocorre com a AIDS?
R-Estar infectado com o vírus ou
contrair AIDS não é uma dinâmica familiar, não diretamente. Naturalmente, as
pessoas que contraem AIDS são em sua maioria homossexuais, e a homossexualidade é
uma dinâmica familiar. Se volto ao exemplo anterior, se houve um filho que morreu
cedo e era uma menina, e na família só existem meninos, então um dos meninos tem
que representar a uma menina. Agora, isto conduz à homossexualidade, se um homem
tem que representar a uma mulher em uma família. Mas quando há AIDS a questão é
que enfrentem seu destino e sua sorte. Pelo que tenho visto, eles normalmente
não têm nenhuma ilusão, é fácil trabalhar com eles.
No que diz respeito à homossexualidade,
primeiro quero dizer umas quantas coisas gerais sobre o ponto de vista
sistêmico. Cada pessoa é parte
integrante do sistema relacional no qual vive, e cada pessoa tem um mesmo valor
para o funcionamento deste sistema quer dizer, cada membro do sistema familiar
é essencial em sua importância.
As
diferenças em um sistema social permitem que este seja mais duradouro e estável.
Existe uma consciência de grupo que exclui a alguns membros do grupo por serem
diferentes, mas atua a um nível diferente que a consciência sistêmica que olha
pelo direito de todo membro de formar parte do sistema familiar. O fato de que alguém seja excluído por ser diferente, tem consequências muito serias para os
membros mais jovens de uma familia.
Tenho visto muitos casos nos
quais uma pessoa mais jovem sofria terrivelmente porque estava identificada com
um familiar, que havia sido excluído da família por ser homossexual. Os homossexuais
são membros da família e como tais devem ser reconhecidos e valorizados. Do contrario, se fere o amor. Este reconhecimento fundamental da dignidade intrínseca d do valor de toda pessoa permite olhar as diferenças abertamente.
Partindo desta base, se apresenta
um fato inevitável para os casais homossexuais: seu amor não pode leva-los a ter
filhos. A procriação exige a heterossexualidade, e este fato não pode ser
ignorado como se não existisse nem tivesse consequências. Em qualquer relação
de casal sem filhos a separação significa menos culpa, quer dizer, se trata de
duas pessoas que só se ferem mutuamente. Por outro lado, se um casal de país se
separa, este passo tem consequências graves para seus filhos, pelo que lhes é
exigida muita cautela para que seus filhos não sofram pelo que eles fazem. Esta
culpa adicional torna mais difícil a separação para os pais, mas, paradoxalmente, também serve de apoio para sua relação. Os casais sem filhos, entre estes
também os casais homossexuais, não podem contar com o apoio destas consequências para mante-los juntos em tempos de crises.
Para casais homossexuais, da
mesma forma que para outros casais sem filhos, interessados em uma relação duradoura
e de amor, é especialmente importante tomar decisões claras e conscientes sobre
os fins e intenções de sus relações. Algunas metas são mais prováveis de levar
a uma estabilidade duradoura em uma relação que outras. Querer evitar a solidão
ou sensação de vazio, por exemplo, não é nenhuma meta que possa apoiar uma
relação duradoura entre iguais.
Cada pessoa tem seu propio caminho
na vida, uma parte se escolhe, mas a outra simplesmente vem dada pela vida mesma,
sem que se possa escolher realmente. Esta é
a parte difícil de se lidar. As pessoas homossexuais com as quais eu trabalhei,
inclusive aquelas convencidas de que elas escolheram livremente sua orientação
sexual, estavam atadas em dinâmicas sistêmicas, experimentando em sus vidas as consequências do que outros em seu sistema fizeram ou sofreram. Foram colhidas ao serviço de seu
sistema, e, de crianças, não puderam se defender da pressão sistêmica à qual
estavam expostas. Portanto, isto é para eles o segundo assunto a tratar: eles levam
algo pela família.
Eu não vejo a homossexualidade
como algo que tenha que se mudar, e sempre que trabalho com pessoas homossexuais,
a homossexualidade não é o tema primordial. Simplesmente tento trazer à luz qualquer
tipo de implicações que poderiam estar limitando a plenitude da vida, mas
não tenho nenhuma intenção de mudar orientação sexual de ninguém.
P-Que tipo de implicações tem
observado em seu trabalho com homossexuais?
R-Pude observar três padrões de
implicações sistêmicas: Uma criança é pressionada a representar a uma pessoa do
sexo oposto no sistema porque no ha nenhuma criança do mesmo sexo à disposição.
Assim, por exemplo, uma criança teve que assumir o papel de sua irmã mais velha
morta, porque não havia nenhuma menina entre os demais filhos sobreviventes. Ou
o caso de outro filho que teve que representar a primeira noiva de seu pai, que
havia sido tratada injustamente. Este é o padrão mais doloroso e difícil que pude
observar.
Um filho sente a pressão de representar alguém que foi excluído do sistema familiar o que foi difamado pelo sistema,
inclusive se a pessoa em questão é do mesmo sexo. Homossexuais que vivem neste
padrão tem a posição de "marginalizados". Assim, por exemplo, uma criança
que era tratada como o primeiro noivo da mãe que contraiu sífilis e, em seguida,
rompeu o compromisso. Ainda que aquele noivo tenha agido honrosamente tinha
sido menosprezado e desdenhado pela mãe da criança. Os sentimentos do filho, a
sensação de ser desprezado, eram muito similares às que o noivo deveria sentir,
como se fossem seus próprios sentimentos.
Um filho que permaneceu recolhido
na esfera da mãe, ou uma filha que não saiu do âmbito de influencia do pai, ambos
incapazes de levar ao fim o gesto interior de tomar ao progenitor que pertence
ao mesmo sexo.
Tradução livre de Marcia Paciornik
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