Sobre soluções, enfoque fenomenológico, ganhos e perdas, assassinatos, vitimas
e perpetradores
Que tipo de soluções podem
ser encontradas para um cliente? O que constitui o enfoque fenomenológico neste
contexto?
O campo de visão fenomenológico
vai desde um ponto de vista estreito a uma percepção ampla, se estende desde o
próximo, ou a mão, até perder de vista. Isto significa que em vez de olhar só ao
cliente, o terapeuta também olha toda a família, e ao invés de olhar só para o cliente
e sua família, olha além deles, a um campo de fenômenos maior e à alma maior
que contém tudo. Um individuo e sua família estão unidos por um campo maior e
estão afetados pelas forças de uma alma comum maior, que parece guia-los e
dirigi-los. Mas ainda, parece claro que um problema só pode ser compreendido cabalmente, e que só podem emergir soluções, no contexto de uma visão mais
ampla.
Sim espero ser de ajuda para a
alma do cliente, devo ver a sua alma sendo guiada pela alma familiar. Mas se só
olho para o cliente e sua família, posso reconhecer o que foi que conduziu a
implicações sistêmicas. Mas a solução não se apresenta até que tenha feito a conexão
com estas forças e dimensões da alma que estão com o individuo e sua família.
Estas dimensões estão além da nossa influencia. Nos podemos meramente
permanecer abertos e receptivos em relação a ela.
Quando nos enfocamos no essencial
durante uma constelação, esta alma maior pode esclarecer uma imagen curadora
potencial, ou uma frase, ou possivelmente o próximo passo. O terapeuta se faz
meramente disponível para ser tocado por esta alma maior, ao se refrear de qualquer
direção de sua parte, e permanecer profundamente humilde em relação a tudo aquilo
que teme, inclusive diante do medo de fracassar. Então, repentinamente, uma
imagem, uma palavra, ou uma frase pode emergir, guiando-o ao próximo passo. Mas
será sempre um passo em direção à escuridão ao desconhecido. Só ao final ficará
claro se este passo foi apropriado ou se ajudou efetivamente. Ao adotar uma
postura fenomenológica entramos em contato com estas dimensiones da alma, e isto
se consegue com mais facilidade não-fazendo do que fazendo.
A presença focalizada do próprio terapeuta ajuda o cliente a adotar ele também a atitude fenomenológica e a receber
os esclarecimentos e forças que ela oferece. Com frequência o cliente não pode
suportar o que lhe está sendo revelado e se fecha contra isto. O terapeuta consente
inclusive com isto. O terapeuta não permite deixar-se prender pelo destino enredado
do cliente e de sua família. Isto poderá parecer frio ou duro de coração. Mas nossa experiencia tem mostrado que, tanto para o cliente como para o
terapeuta, os esclarecimentos obtidos de qualquer outra maneira, permanecem
incompletos e são so tentativas.
Pode nos dar exemplos daqueles
cuja sorte ou morte trouxeram para a família uma vantagem ou um ganho?
Em constelações com descendentes dos
que adquiriram uma grande fortuna, tem sido notáveis os destinos difíceis dos
netos e dos bisnetos, que não podem ser explicados por eventos só na família.
Depois que se agregaram representantes para as pessoas que sofreram para a aquisição
de tais riquezas, se tornou aparente que seu sacrifício continuava tendo efeitos
na família durante varias gerações.
É também este o caso quando, por
exemplo, houveram trabalhadores que morreram durante a construção das ferrovias
o na produção de petróleo, e cuja contribuição para a prosperidade de seus
empregadores não foi reconhecida nem honrada.
¿O que acontece quando um membro da família foi
assassinado?
Darei um exemplo. Foi em um grupo
de supervisão. Um terapeuta apresentou a situação de um cliente. O pai havia assassinado
a sua esposa, as filhas ficaram e estão agora cuidando da irmã da esposa. As duas meninas estão muito alteradas. Configurei o homem, a mulher, a irmã e as duas
meninas. A mulher imediatamente sentiu muito medo. Se virou em direção à sua
irmã em busca de proteção. O homem se afastou. Queria
irse. De fato, ele
se matou logo depois de matar a sua esposa. Assim que tive que fazer com que enfrentassem
o verdadeiro assunto. Trouxe à esposa e fiz com que se deitasse no chão para
mostrar que ela não está viva, ela está morta agora, assi que não pode
simplesmente ir em busca de sua irmã para proteção. Assim restabeleci a
realidade neste aspecto. Logo trouxe ao homem de volta para que olhasse à sua
esposa. E a olhou e não podia se mover. Então disse que respirasse
profundamente e repentinamente saiu dele uma dor muito, muito profunda. Uma tremenda dor. E então caiu de joelhos e olhou sua esposa e começou a chorar. Então, só então, pode olhar realmente para sua esposa. E logo fiz com que se deitasse
junto de sua esposa porque esta era a realidade. Ele também estava morto. E
então os dois, ambos se moveram aproximando-se com um amor muito, mas muito
profundo. Isto é o estranho que ficaram unidos em um profundo amor. Disto concluo e tive experiencias similares com outras constelações ainda mais
traumáticas que ao fim das contas, se ambos se reconhecem como mortos, então os
mortos...se unem.
Estranho movimento, que aqueles
que estão mortos se unam, se entrelacem um com o outro, e cheguem a paz com um
amor muito, muito profundo.
Agora, este movimento, a meu ver, só é possível se os perpetradores e as vitimas, quem quer que sejam, estejam ao
serviço de uma raiva falsa que vai além deles, muito além deles. E só se todos
eles olham para esta força maior, então os antagonismos entre eles podem cessar
e se inclinam com muita humildade na alma diante desta força maior. E o que une
a todos eles denomino de Grande Alma e não tenho um nome melhor para isto, e isto
vai mais além da noção de campos morfogenéticos, que se utiliza às vezes para
explicar os fenômenos de repetição de padrões ou formas no tempo e no espaço,
porque os campos estão fixos. A alma é algo que se move, dirige o curso da história
e da vida pessoal. E nesta alma nos participamos.
E ao invés de ver ao individuo como tendo uma alma, ele participa na alma.
Esta alma tem vários níveis. Na superfície tem um nível de leis muito duras. e por baixo tem algo muito diferente.
Por exemplo, posso configurar uma família, duas pessoas, e não sei nada, e de
repente, eles são atraídos por uma força e enfrentam o verdadeiro assunto, e esta
força os dirige em direção a uma solução, que vai mais além das leis que operam
na superfície. Se conseguimos pegar esta força pegamos a
força curadora.
Mas talvez uma coisa mais sobre a
constelação do homem que matou sua esposa e em seguida se suicidou. As duas filhas se encontravam muito alteradas. Uma estava cheia de ódio.
Foi sumamente claro, ela estava a caminho de se tornar uma assassina com este ódio. Ela foi em
direção ao pai, queria ir em direção ao pai. E a outra estava alterada de outra
maneira. Ela queria se tornar uma vitima. Fiz com que se deitassem junto dos
pais. Então estavam unidas com eles e logo puderam se colocar de pé, já sem ódio,
não mais com desespero, e puderam dar as costas aos mortos, deixa-los sós e
olhar para a vida. Esta também foi uma solução ai.
P- O que acontece quando um membro da família se converte em vitima ou
perpetrador?
No que diz respeito a
perpetradores e vitimas, os assassinos se sentem grandes com frequência, muito
fortes quando se enfrentam com suas vitimas. E então em suas famílias o mais
fraco assume a expiação. Na constelação, quando são confrontados com as vitimas,
as vitimas se tornam muito, muito grandes e os assassinos muito muito pequenos.
E assim há um certo tipo de compensação que se obtêm com isto neste nível. E
então se isto acontece os vivos não estão mais enredados. Este é um
tipo ritual de cura. Temos visto que o que causa perturbações é que os os vivos assumem algo
que só os mortos entre eles podem conseguir. Assim, o movimento curador seria que os vivos olhassem aos mortos, permitam
que façam seu movimento, olhem uma vez mais e logo se virem e olhem para o
futuro. Este seria o movimento
que vai a outro nível. Assim, a interferência no domínio dos mortos causa
perturbações nos vivos.
Em muitas constelações que envolvem
descendentes de assassinos, por exemplo os perpetradores durante o regime nazista,
ficou claro que os netos e os bisnetos queriam deitar-se junto das vitimas, o
que implica um perigo muito grande de tendencias suicidas. A solução foi similar para ambos os grupos. As vitimas devem ser vistas e
reconhecidas por todos os membros da família, que necessitam inclinar-se diante
deles e fazer o luto por eles.
Depois, aqueles que originalmente
se beneficiaram, assim como os perpetradores, tem que se estender junto das vitimas,
e os demais membros da família devem deixa-los ir em direção a estes domínios. Só então os descendentes se sentirão aliviados. E talvez os vivos se olharão uns
aos outros de uma maneira diferente.
Tradução Marcia Paciornik
(1) fonte: Insconsfa.com.
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