Um dos nossos
grandes desafios é poder reconhecer o que é essencial para nós. Muitas vezes nos perdemos em duvidas, em labirintos mentais (pensamentos e argumentos repetitivos e intermináveis) ou nos paralisamos presos a emoções intensas e ou conflitantes.
Em algumas áreas da nossa vida acontece com mais frequência, em outras com menos. Vai depender de
nossa estrutura interna, de como pensamos. Do quanto podemos "suportar" ou sustentar a verdade do que é. De estarmos mais ou menos enredados em traumas do sistema familiar.
Quando
estamos reagindo a partir de uma parte menos crescida, por exemplo de algo que nos remete a uma situação traumática da infância, é possível que sintamos muito medo, raiva, insegurança ou outra emoção intensa. Nestes casos reagiremos de forma incompatível com a situação. Teremos
uma reação ou emoções desproporcionais ou nos paralisamos.
Estas reações desproporcionais são "espelhos" de situações que vivemos na infância com as quais não
conseguimos lidar porque não tínhamos a estrutura emocional adequada. Éramos pequenos demais.
Poder
reconhecer a "verdade" de cada momento ou situação é um passo importante para discernir o que é essencial para nós.
Só será possível quando, antes, pudermos estar de acordo com o que estiver ocorrendo. Sem negar ou desejar que seja diferente do que é. Da mesma forma que sabemos e reconhecemos a primavera vem antes do verão.
Isto vale para todas as nossas áreas e situações: pessoais, profissionais, relacionamento de casal, mudanças de vida bem como para decidir sobre questões que vão afetar nosso entorno, o lugar onde vivemos ou nossa comunidade.
Pode reconhecer
alguma vez na qual, sem se dar conta, permaneceu fixo em algo que não era essencial e se perdeu em detalhes ou aspectos irrelevantes para seu objetivo?
Ou que,
em algumas situações, se recusou ou recusa a ver ou reconhecer
o que está de fato ocorrendo? Rejeitando, negando, justificando-se,
argumentando, buscando explicações, paralisando-se, ou agredindo, entrando
em desespero, entregando-se a uma emoção sem controle?
Podemos identificar o que é essencial para nós?
Se, por
exemplo, estamos em uma fase da vida na qual necessitamos escolher uma carreira
que aspectos devemos considerar? O que é essencial?
A carreira
que vai ser mais lucrativa? A mais glamurosa? A que vai de encontro com as
expectativas dos meus pais? Ou o a que nos deixa felizes e alegra nossa alma?
Se escolho
uma que acredito que será mais lucrativa e/ou glamurosa, mas que vai exigir que
eu seja muito sociável, vá a muitas festas, trabalhe 18 horas por dia, esteja
sempre nos holofotes e sou uma pessoa não muito sociável, que curte ficar sozinha,
esta carreira vai contra meus anseios mais profundos e não serei nem feliz nem
bem sucedido.
Se escolho
um/a parceiro/a afetivo com base em seu aspecto físico sem considerar os objetivos em comum que possamos ter como casal (desejamos ou não ter
filhos? O que esperamos de cada um? Aceitamos
os valores, cultura, forma de ser, religião de nosso/a parceiro/a? Gostamos das
mesmas coisas? (Viajar ou não, morar em casa ou não, em uma cidade ou não?), provavelmente
me frustrarei ou vou acabar ressentido.
O que é realmente essencial para mim em uma relação? Consigo
definir ou me perco em divagações, em aspectos que não são
relevantes?
O mesmo
vale para questões coletivas. Se, por exemplo, precisamos escolher o
sindico para o condomínio onde residimos ou o prefeito da nossa cidade o que é essencial considerar?
Se ele é
bonito? Como ele se expressa e fala? Se gosta de música? Se aprecio a forma
como ele se veste? Se gosto dele? Acho ele simpático? Se ele é cristão, evangélico
ou espírita? Se gosta praia ou campo? Se me perco nestas irrelevâncias não
vou ver o que é essencial: se a pessoa é ou não capaz e competente para
administrar o condomínio ou a cidade.
Se escolho com
base em meu sentimento pessoal de simpatia ou antipatia, se estou movida pela emoção cega, ao invés de analisar o seu
trabalho efetivo e sua capacidade de colocar meu condomínio ou minha cidade em ordem obviamente
vou estar prestando um grande desserviço para mim e para meus vizinhos ou moradores de minha cidade. E acabar escolhendo alguém que criará para todos muitos problemas no futuro.
Nenhuma situação ou pessoa é perfeita. Nós também não. Quero alcançar algo ideal ou inatingível? Consigo focar no que é essencial? Consigo ver o que é bom para mim e para todos ou estou totalmente preso a preconceitos?
O que é essencial em cada situação e contexto?
Conseguimos decidir por algo que não seja ideal mas sim possível? Que seja mais alinhado com a realidade do momento? Podemos ver o que é bom para mim e também para todos? Podemos reconhecer o que viemos viver? O que nossa alma anseia?
O essencial só é "essencial" se o que almejamos for bom para mim e também para todos.
Estamos convencidos de que somos separados, desconectados uns dos outros e do que nos circunda. Somente em décadas mais recentes as novas descobertas das ciências físicas, biológicas e humanas voltaram a recolocar a noção de que interagimos em uníssono com tudo que nos rodeia, que de fato estamos conectados, vinculados com tudo e todos.
Normalmente estamos presos a traumas e conflitos do passado, a fidelidades com o sistema familiar. A mandatos que recebemos ou promessas e roteiros de vida que fizemos na infância.
Ou não conseguimos encarar a realidade como é porque nossa capacidade de suportar e ver a verdade está ofuscada por crenças, fantasias, expectativas e dominada por preconceitos e pela necessidade de pertencer, presa ao certo e ao errado dos meus grupos.
É importante identificar o que nos impede ou afasta do que é essencial para nos para, eventualmente, poder se for o caso buscar a ajuda adequada.